sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Liturgia Evangélica 17: A Santa Ceia

Por Michael "iMonk" Spencer

The Evangelical Liturgy 17: The Lord's Supper originalmente publicado em InternetMonk, 19 de outubro de 2009. Traduzido com permissão.

Aqui está a Introdução desta série. Os demais posts podem ser lidos na categoria Série: Liturgia Evangélica.

Nos últimos dois anos, eu escrevi extensamente no InternetMonk na tentativa de recuperar alguma sanidade, freqüência e significado para a prática da Santa Ceia na minha tradição batista. Você pode encontrar esses posts nas categorias "Baptists" e "Church" nos arquivos do IM.

Para esta série, minha intenção será modesta: como a Santa Ceia (por favor, permitam-me usar apenas este nome, sem deixar de levar em conta que outros protestantes e evangélicos podem usar outros) se encaixa na liturgia evangélica e no contexto de uma recuperação da liturgia na igreja protestante?
Eu começaria dizendo que uma recuperação do lugar litúrgico da Santa Ceia no evangelicalismo não significa se tornar católico, luterano ou anglicano, mas aprender dessas tradições onde for possível e apropriado. Existem aspectos da Santa Ceia que os evangélicos quererão afirmar e praticar que são de pouco interesse para cristãos mais "católicos", e há aspectos de prática mais sacramental que os evangélicos preferirão evitar.

Seria contraproducente, na maior parte das situações evangélicas, o usar a Santa Ceia para criar confusão. Muitos evangélicos estão em uma caminhada para uma maior apreciação da Santa Ceia em sua espiritualidade pessoal. Seria sábio não usar a congregação como um "laboratório" para essa jornada.

Ao mesmo tempo, é mais do que seguro afirmar que milhares de evangélicos estão nessa mesma jornada e, com uma abordagem que conduza a congregação de maneira tranqüila, responda as perguntas que surgem, e permaneça ancorada em uma visão evangélica das Escrituras, muitos evangélicos podem ter uma experiência muito mais cheia de significado da Santa Ceia no contexto do culto e da vida cristã.

Eu começaria com alguns dos itens básicos da nossa caixa de ferramentas litúrgica: Onde fica a Mesa/Altar? Que nome nós vamos dar pra ela e por quê? (No contexto do significado que nós queremos enfatizar na nossa própria tradição.) Qual será a sua relação com o púlpito no lugar de culto? O que colocaremos em cima da mesa para chamar a atenção para a Santa Ceia e nada mais? (Eu fico com os puritanos em deixar de fora adições ostensivas, mas com os anglicanos em manter uma cruz simples.)

Onde fica a mesa, com relação ao púlpito? Eu tenho uma queda pela idéia presbiteriana do espaço de culto: enfatizar a pia, a mesa e o púlpito. E gosto do arranjo anglicano, que coloca o púlpito e a mesa separados mas sem negligenciar nenhum dos dois; um templo que eu visito sempre, de uma igreja presbiteriana aqui perto, deixa espaço suficiente para todos os três. Não tem como errar com a "trindade" evangélica/protestante da Palavra/Mesa/Água.

Freqüência é um ponto polêmico no evangelicalismo. Algumas tradições guardam uma freqüência isolada da celebração da Ceia como uma espécie de reverência, mas os efeitos disso foram o contrário. Evangélicos pragmáticos acharam fácil abandonar a Ceia para uma sala separada e só de vez em quando.

Por outro lado, os evangélicos -- especialmente campbellitas -- que tornaram a Santa Ceia parte de todo culto dominical tiveram resultados variados. Eu costumava substituir em uma igreja que podia bater o recorde olímpico na hora de tomar a Ceia. Ela foi trivializada pela freqüência, mas eu sei que isso nem sempre acontece.

Eu respeito os evangélicos que conseguem o feito de repetir a versão de Spurgeon da Santa Ceia batista todo domingo, mas eu acho que a maioria dos protestantes/evangélicos vão concordar que a ceia mensal é uma boa concessão, ou ao menos um bom ponto de partida. Um culto alternativo com comunhão mais freqüente é uma boa.

Os elementos já se tornaram um tipo de tragicomédia para os protestantes. A perda do simbolismo do pão e do cálice únicos foi aceita fácil demais, e a substituição de vinho por suco de uva foi mal compreendida. Nos lugares onde álcool pode ser problema, a concessão necessária deve ser feita com a plena comunicação do que se está fazendo, e de que esse desvio precisa ser corrigido. Eu sei que isso é polêmico, mas se nós não conseguimos obedecer nem mesmo o que a Bíblia diz com respeito aos elementos -- um pão, um cálice -- então como nós podemos esperar sermos levados a sério no que diz respeito ao resto da nossa teologia eucarística? Cubinhos de pão-de-fôrma e copinhos de dose são um último recurso.

A Santa Ceia precisa estar ligada com os demais elementos do culto, especialmente a confissão de pecados e os Credos. As orações à mesa do Senhor deveria ser especialmente focadas no que está acontecendo ali, e não no cardápio padrão de retórica de oração evangélica. Cantar hinos/cânticos que comuniquem a teologia da ceia também é apropriado.

Em que momento do culto? A liturgia clássica coloca a Palavra primeiro e a Ceia depois. Isso é bastante louvável, mas não obrigatório. Na verdade, a criatividade de deixar que a Ceia "pregue" tanto quanto possível ao longo do culto é necessário. Seria simples reorientar toda a liturgia pela celebração da Santa Ceia de tempos em tempos.

Eu insisto em que os evangélicos da minha própria tradição liguem a Ceia à celebração do Pessach. Há muita teologia riquíssima aqui para ampliar o nosso entendimento de Jesus e do que ele estava fazendo com a refeição do Pessach. Isso não é para apoiar qualquer das tendências recentes de dar um sabor "messiânico" ao evangelicalismo. Nós simplesmente precisamos saber que Jesus pegou uma refeição que era sobre um tipo de salvação e mudou o seu significado.

Na minha tradição, cristãos batizados são convidados para a mesa do Senhor. Comunhão fechada tem os seus pontos positivos, mas não acho que ela possa ser feita sem ter de se fazer explicações dentro do culto -- por escrito ou em pessoa -- para orientar a congregação quanto às razões por que nem todos os cristãos são bem-vindos à mesa.

Eu ando me achando cada vez mais atraído à Mesa do Senhor como um sacramento de convite, com aplicações evangelísticas ressaltadas. Aqueles que não criam mas agora crêem, deveriam ser convidados a participar como crentes. "Eis aqui água" funciona com "Eis o banquete da salvação" também.

Crianças? Eu apoiaria a meta da minha tradição de que a Mesa do Senhor seja normalmente um lugar onde os crentes batizados vêm para adorar, mas reconheço que os pais podem considerar a mesa do Senhor um lugar para começar a confissão de fé de uma criança. Questão de discricionariedade dos pais, na minha opinião.

Muitos evangélicos fizeram experiências com variações na ministração da Santa Ceia. Igrejas que servem a congregação sentada podem variar fazendo-a vir à frente. Um contexto de refeição de comunhão pode se revezar com um culto formal. No evangelicalismo, grupos pequenos podem partilhar da Santa Ceia juntos, talvez com uma liturgia preparada pelos presbíteros.

Uma recuperação da liturgia protestante certamente será incompleta sem uma restauração e resgate da Santa Ceia na vida e no culto da igreja. Oremos e trabalhemos para que ocorra esse resgate, e tenhamos uma apreciação verdadeira dos nossos irmãos mais "católicos/sacramentais" e daquilo que a tradição deles pode nos ensinar, mesmo enquanto nós recuperamos aquela tradição que é a nossa própria.

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