Por Michael "iMonk" Spencer
The Evangelical Liturgy 14: The Sermon originalmente publicado em InternetMonk, 5 de outubro de 2009. Traduzido com permissão.
Cerca de 98% da blogosfera cristã é escrita por pregadores, sobre pregação, então eu me pergunto quanto eu preciso dizer sobre este assunto. No passado, eu fiz uma série breve sobre "O que há de errado com o sermão?". Muito daquilo se aplica aqui.
Este post é particularmente sobre o lugar do sermão na liturgia evangélica. A primeira coisa que eu quero dizer é que o sermão deve ser proeminente, mas não dominar a ordem do culto. Nós vivemos em um tempo em que se vivencia muita pregação em extremos, e a pregação equilibrada é rara.
O que seria pregação equilibrada?
Duração adequada. Não muito comprida (qualquer coisa além de 25 minutos já fica perigosa) nem muito curta. (Eu ouvi uma homilia católica semana passada que fechou em menos de 5 minutos.)
Lei e Evangelho, pecado e graça, exposição e aplicação, e por aí vai. Há muitos desses equilíbrios que, embora nem sempre presentes em todo sermão, são importantes para se levar em conta a cada sermão, e importantes para levar em conta durante todo o ministério de um pregador.
Pessoal e objetivo. A pregação popular de hoje (com raras exceções) tende a ser dominada pela personalidade e a vida pessoal do pregador. Os resultados de longo prazo disto na vida do cristão são ruins, não importa o quanto as pessoas gostem.
Bíblico e ilustrativo. O material bíblico precisa ser ilustrado com material próximo à experiência de vida da congregação. As próprias Escrituras demonstram isto, e ninguém dava aplicações práticas melhor do que Jesus. Os melhores pregadores são ilustradores hábeis. Ravi Zacharias é mestre nisto.
Tradicional e criativo. Comunicação precisa de estrutura, mas também precisa de liberdade para ir em direções inesperadas. Calvino e Lloyd-Jones são bons exemplos de abordagens tradicionais. Pessoas que você não quer admitir que escuta podem ser bons exemplos de criatividade.
Lecionário e texto escolhido. O lecionário é um bom guia, mas o bom pregador irá usar os "espaços" do Ano Cristão - especialmente o Tempo Comum - para fugir do Lecionário e abordar assuntos necessários.
Agora, voltemos ao lugar do sermão na liturgia evangélica.
Em um culto que adota a comunhão freqüente, o sermão acontecerá mais cedo na ordem de culto, e eu espero que meus amigos evangélicos compreendam o valor disto. O sermão deve vir após as leituras bíblicas, e não deveria ter de suportar o peso de encerrar o culto. (A prática do apelo fez coisas terríveis para a maior parte da pregação evangélica, e não existe nada pior do que tornar o sermão uma petição de meia hora para que as pessoas venham para a frente.)
Alguns de vocês vão torcer o nariz agora, mas livrar-se do púlpito foi uma má idéia. Na verdade, eu não consigo pensar de uma única mudança isolada na arquitetura das igrejas que passe uma mensagem mais negativa sobre o culto do que a remoção do púlpito ou a sua substituição por uma tribuna de acrílico transparente. O desejo de tornar o culto em não-culto foi mais facilitado pela remoção do púlpito do que por qualquer outra mudança. Toda essa retórica de ser "uma barreira entre o pastor e a congregação" é bem rasa.
O púlpito comunica a centralidade e a importância da Palavra de Deus proclamada, e relativiza o pregador para o seu devido lugar: disciplinado e chamado para ficar atrás da Palavra. Prenda a personalidade à Palavra. O pregador desfilando pelo palco com uma Bíblia aberta na mão é uma cena fora de equilíbrio: o pregador e sua personalidade estão exageradamente enfatizados. A Palavra está sendo literalmente "usada" pelo pregador diante de nossos olhos.
Eu recentemente li a carta de um sacerdote católico romano para a sua congregação explicando o valor de se fazer o culto ad orientem, ou seja, com o sacerdote olhando para frente, e não para o povo. Ele listou várias razões litúrgicas, mas ele também fez o que pode para dizer uma coisa sem realmente dizer: olhem o que tornar o ministro o foco central do culto fez com o protestantismo/evangelicalismo!
E ele está certo, e muitas igrejas evangélicas nunca terão uma liturgia equilibrada e disciplinada porque a igreja precisa ser o palco do pregador.
Algumas palavras de conselho prático:
Sermões em série são overrated [sobrevalorizados] e já foram feitos à exaustão. A mensagem sobre um único texto ainda é uma boa idéia. A cópia de idéias para sermões em série -- SEXO!!! -- já ficou ridícula. As congregações deveriam começar a processar seus ministros!
Pegue o texto. Explique o texto. Ilustre o texto. Aplique o texto.
Togas são uma boa idéia para ministros evangélicos. Obviamente não para todo mundo, mas eles são um bom meio-termo entre exibir um terno e andar tão casual que dirigir um culto parece quase inadequado.
Peça para alguém identificar seus problemas gramaticais, retóricos e homiléticos. E então trabalhe neles.
Use uma bênção trinitária no final da mensagem.
Transições para o sermão e para fora dele fazem a liturgia fluir. Por exemplo, eu tenho usado o Credo Apostólico, ou o Niceno, como uma transição para fora do sermão por muitos anos.
Não fale sobre a preparação do seu sermão. Nada grita mais "auto-valorização" do que "eu gastei 30 horas meditando neste texto". E se você alegar que "o Espírito Santo me fez mudar de idéia no último minuto", eu tendo a pensar que é uma coisa totalmente diferente que está acontecendo.
Não ponha tanta importância em um único sermão que ele se torne uma distração para você. Relaxe. Curta o texto.
Pare de ouvir os pregadores que tendem a te fazer querer pregar, soar ou parecer com eles. Simplesmente pare. Driscoll podia abrir uma grife de roupas e ganhar a maior grana em cima do fã-clube dele.
Escute pregadores que te desafiam em áreas onde você precisa crescer. Eu escuto Willimon e Zahl. Não sou nada parecido com nenhum deles. Mas quero ser como eles.
Em vez de ouvir todas essas MP3s do Keller e do Driscoll, vá ler uns livros de bons aplicadores. Leia Pregação cristocêntrica do Chapell. Leia Craddock. Leia Buttrick. Leia Pregação indutiva do Lewis. Leia o livro de Clyde Fant sobre desenvolver um manuscrito oral. Leia Stott. Leia Pregadores e Pregação do Lloyd-Jones. Qualquer coisa do Willimon, ou The foolishness of preaching, do Capon. Esses livros vão te ajudar mais do que sermões.
Você não é e nunca será Spurgeon. Ele tinha um monte de maus hábitos. Lembre-se pregadores populares conseguem se safar de coisas que você nunca conseguirá.
Leia os sermões de Lutero. Ótimos exemplos de pregação evangélica em um contexto pastoral.
Não procure ser amado como pregador. Esse é o maior erro que eu já cometi em minha vida e ministério. Procure ser amado como pastor, líder e, sobretudo, como companheiro de jornada. Melhor ainda, só procure amar aos outros e não ligue para avaliações da sua popularidade. Tenha uma platéia de um só, e um rebanho para alimentar e servir.
Se você for realmente vocacionado e preparado, você deve conseguir montar uma boa comunicação em algumas horas. Se te toma mais de 25 horas para fazer um sermão, eu vou suspeitar do que você está fazendo e por quê. Sua congregação te chamou para viver trancado no gabinete?
Eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre isso, mas já é o bastante. Perguntas nos comentários são muito bem-vindas.
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