domingo, 17 de agosto de 2008

Anunciar a morte do Senhor

Por Jeffrey Meyers

(leia o original aqui)

Na minha apresentação no Colóquio da Assembléia Geral [da Presbyterian Church of America, N. do T.] sobre os sacramentos, eu argumentei a favor de uma experiência mais alegre e comunitária na Mesa do Senhor. Will Barker deu uma breve e generosa resposta ao meu artigo, sugerindo que há lugar para uma experiência mais solene à Mesa. Ele se baseou na afirmação de Paulo em I Coríntios 11.26, "Pois toda vez que comerdes do pão e beberdes do cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha." Eu creio que a réplica de 10 minutos do Dr. Barker será postada em breve.

Há, aqui, algumas coisas a serem pensadas. Primeiro, eu admito que pode haver ocasião e lugar para uma celebração mais solene e sóbria da Ceia. Dependendo do que tiver acontecido ou estiver acontecendo com a congregação, pode ser apropriado. A igreja pode ter uma celebração mais moderada da Ceia imediatamente após a morte de um membro querido, ou da excomunhão de um irmão ou irmã, ou talvez em qualquer época em que a congregação como um todo precise velar ou arrepender-se de algo. A primeira vez que a igreja de Corinto se reuniu para a Mesa do Senhor depois que a carta de Paulo foi lida para a congregação provavelmente não foi uma experiência muito alegre. Eu não tenho problemas com cultos eucarísticos solenes, celebrados ocasionalmente. Pelo menos uma vez no ano, na quinta-feira da Paixão, a ceia provavelmente deveria ser celebrada assim.

Em segundo lugar, "anunciar a morte do Senhor" não é a mesma coisa que velar a sua morte, ou pior, tentar reviver as circunstâncias da sua morte. "Anunciar a morte do Senhor" pode significar, de duas, uma: Por um lado, pode ser uma referência ao fato de que as Boas Novas da morte de Jesus sejam proclamadas toda vez que comemos do pão e bebemos do cálice. A Santa Ceia é uma atuação pública da aplicação da morte de Jesus ao povo de Deus. O fato de que esta "proclamação" acontece quando comemos do pão e bebemos do cálice significa que não é apenas uma representação ou dramatização da morte de Jesus. Comer e beber não têm como ser consideradas representações simbólicas da morte. Comer e beber estão ligados à vida e ao viver!

A morte de Jesus aconteceu. Está no passado. Nós viemos à Mesa, onde já estão o pão e o vinho. O corpo e o sangue estão separados, o que significa que a morte aconteceu. No sistema sacrificial do Antigo Testamento, o sangue sempre deveria ser separado do corpo da vítima. Nós vimos à Mesa que foi aspergida para nós, porque Jesus já morreu. Nós, agora, colhemos os benefícios da sua morte. A morte de Jesus não pode ser re-dramatizada à Mesa. Nós podemos apenas desfrutar dos resultados da morte de Jesus - seu corpo e sangue dados a nós como alimento. Novamente, é uma mesa, e não um túmulo.

Em terceiro lugar, a outra interpretação de I Coríntios 11.26 é a que eu prefiro. A Ceia do Senhor é uma refeição memorial da aliança. Por meio da Ceia a igreja rememora a morte de Jesus, para o Pai. Compreendida no contexto dos "memoriais" do Antigo Testamento, esta refeição memorial da Nova Aliança é uma oração ritual dramatizada, relembrando a Deus de sua aliança. A Santa Ceia é o rito memorial da Nova Aliança. É o cumprimento de todos os antigos meios que o Senhor instituiu, pelos quais seu povo invocava o seu Nome e dramaticamente o pedia para que se lembrasse de sua aliança. Todos os memoriais da velha ordem estão agora cumpridos e completos (consolidados) em uma única e simples refeição memorial da aliança. Jesus diz: "Fazei isto em memória de mim".

À mesa, nós rememoramos a morte de Jesus. O sentido não é o de nós simplesmente a recordarmos, mas sim de nós relembrarmos a Deus das promessas de sua aliança para conosco. É da nossa ação com relação a Deus. É a nossa prece a Deus, o lembrar-se de Jesus e de manter sua aliança. Nós anunciamos ao Pai a morte do Senhor, pedindo-lhe para que mantenha as suas generosas promessas em Cristo. No caso da Santa Ceia, essa rememoração é um ato da congregação, uma declaração das promessas de Deus. Isso vem à tona nas orações de ação de graças (no grego: eucaristia) e de memorial antes da distribuição e comunhão do pão e do vinho, mas não se limita a elas. De fato, a refeição memorial inteira anuncia a morte de Cristo, como Paulo afirma em I Coríntios 11.26: todas as vezes que comemos do pão e bebemos do cálice, anunciamos a morte de Cristo.

Essa "proclamação" não se limita à oração ou ao partir do pão, mas ainda rememoramos Cristo ao Pai por meio da refeição comunitária. Eis o memorial do sacrifício redentivo de teu Filho, ó Senhor; lembra-te dele e sê generoso para conosco. Tradicionalmente, essas orações sempre incluíram um resumo da vida e da obra de Jesus Cristo. Uma oração eucarística deveria soar algo assim:

É verdadeiramente correto e apropriado que rendamos graças a ti sempre e em todo tempo, ó Senhor, nosso Pai Celeste, Deus Eterno e Todo-poderoso. Mas é especialmente próprio que nós, agora, reunidos diante desta Mesa, rendamos graças a ti pelas tuas generosas promessas em Cristo. Lembra-te, ó Pai, do nascimento humilde de Nosso Senhor, de sua vida santa, de seu sofrimento inocente; e de sua morte e de sua ressurreição e ascenção por nós. Sê fiel em cumprir tua aliança conosco por amor de Jesus, e vem agora alimentar-nos e capacitar-nos para servir o teu Reino. Pelo teu Espírito Santo, faze o corpo e o sangue de Nosso Senhor alimento vivificante para o teu povo; em nome de Jesus nós oramos. Amém.


Uma oração eucarística assim, unida à realização da Santa Ceia, anunciam a morte do Senhor (I Coríntios 11.26) para o Pai. A refeição toda é uma oração dramática, uma afirmação das promessas do Pai pela memória do nascimento, vida, paixão, morte e ressureição de seu Filho por nós.

Tudo isto para dizer que a nossa proclamação da morte do Senhor à Mesa não exige nem implica em uma atmosfera solene, funérea, da Santa Ceia. A morte de Jesus deve ser proclamada com alegria, seja para os outros (como anúncio do Evangelho), seja para o Pai (como memorial da obra de Jesus por nós).

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