segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Manual do Culto da IPIB, 2ª Edição

Foto: Divulgação
Chegou anteontem o meu exemplar do Manual do Culto, 2ª Edição, da Pendão Real, editora oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB). Eu fiz a pré-encomenda antes do lançamento oficial, que aconteceu dia 8 de fevereiro. Algumas impressões preliminares:



Apresentação, formato e diagramação

Não posso esconder que o formato e a diagramação do Manual, embora não surpreendam, me decepcionaram um pouco.

O formato é de bolso, 13cm x 18cm, em capa dura, com gravação do título e do logo da Igreja em prata.

Não surpreende porque todas as denominações protestantes no Brasil, sem exceção, quando se propõem a editar livros litúrgicos, elegem o formato de bolso, ou "manual" (para segurar nas mãos durante o uso, literalmente). Aliás, entre os presbiterianos isso quase sempre vai até para o nome do livro (Manual do Culto, Manual Litúrgico etc.).

Parêntese: Entre os luteranos a liturgia costuma ir no hinário, como ocorria também entre os metodistas (Hinário Evangélico com Ritual). Hoje os metodistas têm um manual litúrgico separado (Ritual da Igreja Metodista), bem mais completo, mas também em formato de bolso. E mesmo entre os anglicanos, que dos protestantes são os que há mais tempo têm tradição de seguir a liturgia direto do livro, e que lá fora produzem tanto edições "de banco" (pocket) quanto "de altar", maiores, para uso do oficiante, aqui no Brasil editam apenas a primeira, em tamanho 10cm x 15cm (Livro de Oração Comum).

Entre os não-protestantes: católicos romanos no Brasil têm larguíssima tradição em livros "de altar", e quase nenhuma em livros "de banco", para o povo seguir junto. A liturgia ou é decorada, ou acompanhada em folhetos, boletins ou semanários formato tablóide, como O Domingo. Os ortodoxos, ao menos os antioquinos, que já visitei, usam tanto livros de altar quanto de banco, estes últimos muito bem impressos em papel-revista, numa publicação muito caprichada.

Fim do parêntese.

O formato do novo Manual da IPIB me decepciona um pouco porque já estou bem mal-acostumado com o Book of Common Worship da PC(USA), de 1993, formato "de mesa" (15cm x 23cm). Lembrando que o BCW foi a fonte principal do Manual da IPIB.

Visto que a IPIB recomenda em seu Diretório para o Culto a Deus que a liturgia seja conduzida da Mesa, bem melhor seria se ela fornecesse uma edição para ser usada em estante, e não manuseada. Tanto pela estética, quanto porque é impossível conduzir a Santa Ceia com Grande Ação de Graças (conforme o Manual) segurando o livro na mão.

A segunda dificuldade (esta não tão grave) do Manual é com relação à sua diagramação, que decorre do formato adotado. No BCW, o texto da liturgia, mesmo que seja em prosa, é dividido em versos, ou "linhas de sentido", o que facilita na entonação e no ritmo da leitura (e determina a espessura do livro). No Manual, o texto segue em parágrafos, com identificação na margem das partes do Oficiante e do Povo. Isso não é problema em si mesmo, mas o formato menor também exige uma fonte menor. E isso pode (ou não) se tornar um problema.

A terceira dificuldade, essa uma birra pessoal minha, é que não aproveitaram o cabeçalho ou o rodapé das páginas para indicar o capítulo em que se está, como acontece no BCW. Neste, enquanto se folheia, sabe-se apenas em bater o olho no rodapé, que se está  no Culto Dominical, no Casamento, no Funeral, ou no Saltério. No Manual, só dá para saber lendo o texto da página, ou buscando o começo de capítulo mais próximo.

Ponto positivo para a impressão das rubricas em tinta azul. Para quem não sabe, rubricas são as instruções para a condução da liturgia, que geralmente vêm em uma fonte menor e em itálico. Elas são chamadas rubricas porque desde a invenção da imprensa, é costume imprimi-las em tinta vermelha (rubra). Neste caso, temos "azulicas"? De qualquer jeito, é por causa disso que os tradicionalistas das igrejas mais liturgicamente conscientes sempre dizem: "Faça o [que está em] vermelho, leia o [que está em] preto." Significa: não invente moda.

No geral, porém, o trabalho de apresentação e diagramação foi bem-feito, assim como o acabamento do volume. É um belo livro.

Conteúdo

O conteúdo do Manual se distribui, após dois prefácios (o da presente e o da primeira edição) em oito partes:

I - Ordens de Culto para o Dia do Senhor

O Manual começa justificando a necessidade da estrutura normativa do Culto, a importância, dinâmica e elementos do culto explicados um a um, textos presentes desde a primeira edição. Segue oferecendo um esboço do Culto Dominical, e então traz uma ordem completa, com textos e rubricas. O Manual presume como regra que a Santa Ceia sempre faça parte do Culto Dominical, oferecendo apenas o esboço de um culto sem o Sacramento da Eucaristia. Bônus para a coragem dos editores em incluir uma saudação trinitária no inicio do Culto.

Segue-se a ordem para o Batismo de Crianças, que pode ser (e em vários lugares é) usada em outras ocasiões além do Culto Dominical (Abertura de Escola Dominical é a ocasião preferida na minha igreja). Então, esboço e ordem para o Culto com Batismo e Profissão de Fé com adultos.

II - Ordens de Culto para Outras Ocasiões

Inclui ordens de Bênção Matrimonial, Culto de Bodas, Intercessão pela Cura, Funeral, Licenciatura, Ordenação, Investidura, Concessão de Emerência e Jubilação de Ministros e Oficiais, além de Consagração e Investidura de Missionários e lideranças leigas, Organização de Igreja, Lançamento de Pedra Fundamental, Consagração de Templo e aniversário da igreja local.

III - Ordens de Culto para o Ano Litúrgico

Esta seção começa com uma explicação sobre o Calendário Litúrgico, seus tempos e elementos. Em seguida, traz ordens de culto para ocasiões diversas do Ano Litúrgico, com orações próprias (incluindo algumas Orações Eucarísticas alternativas) e sugestões de hinos.

Só faltaram, na minha opinião, Ordens para o Ofício de Cinzas (Quarta-feira de Cinzas), Última Ceia com Lava-pés (Quinta-feira Santa) e a Grande Vigília Pascal (madrugada de Sábado de Aleluia para o Domingo de Páscoa).

IV - Ordens de Culto para Datas Especiais

Aqui entram datas e ocasiões do calendário civil (Dia da Mulher, do Meio-Ambiente, da Pátria, de Ação de Graças, Véspera de Ano-Novo) e celebrativo da Igreja (Dia da Diaconia, Aniversário da IPIB, Dia da Juventude, da Reforma Protestante, da Bíblia, das Primícias), além de uma ordem para Culto de Formatura.

Os textos da liturgia do Dia da Mulher são bastante breguinhas, assim como as do Meio-Ambiente. Embora questões de justiça social e cuidado com a Criação devam ser abordadas pela Igreja, creio que isso seja melhor tratado na Escola Dominical do que no Culto, e especialmente no Culto Público. Existe o risco (consumado em outros lugares) de transformar a igreja em uma ONG, e de deslocar sua agenda da proclamação do Evangelho para a promoção desta ou daquela causa. Por mais importante que a causa seja, e por mais que seja válido que a igreja tenha seu braço social, é importante que uma coisa não interfira em outra.

V - Auxílios Litúrgicos para o Culto

Esta seção, que tem correspondente no BCW, traz textos alternativos e complementares para as várias partes do culto, para diversas ocasiões: Chamados à adoração, à confissão de pecados, orações de confissão, outras orações, textos bíblicos para situações variadas.

Pontos extras pelos cânticos biblicos seguidos do Gloria Patri, segundo a milenar prática monástica, e que compõem a parte mais importante das Orações Públicas Matutina e Vespertina, na tradição anglicana. Uma pena que nem todos esses cânticos se encontrem musicados no CTP.

VI - Calendário Cristão, Lecionário e Orientações Litúrgicas

Este capítulo traz, da primeira edição, uma preciosa e concisa explicação do Calendário Cristão, sua importância, sua associação com o Lecionário. Também dispõe sobre os símbolos no culto, principalmente o simbolismo dos três pontos focais da liturgia cristã, o Púlpito, a Mesa da Comunhão e a Pia Batismal.

VII - Diretório para o Culto a Deus

É o documento que atualmente rege o Culto na Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, substituindo as Ordenações Litúrgicas de 1964 e, antes destas, os Princípios de Liturgia herdados da IPB antes do cisma de 1903. É um texto bastante didático e esclarecedor, bem diferente do juridicismo dos PL/IPB.

VIII -Apêndice ao Diretório para o Culto a Deus

O Apêndice traz os documentos oriundos das três grandes questões litúrgicas que movimentaram a Assembléia Geral da IPIB nos últimos anos: o rebatismo de católicos romanos quando admitidos à membresia da IPIB, a admissão de crianças à Ceia do Senhor e a promoção de Cultos de intercessão por cura.

São documentos interessantes, até para se analisar a tomada de decisão por consenso, que freqüentemente ocorre no sistema presbiteriano de governo: nem sempre as conclusões a que chegam as comissões de estudo (que elaboram os textos-base) equivalem à decisão final do plenário. Isso se vê principalmente na questão do rebatismo de católicos romanos: o texto da Comissão opina pela validade do Sacramento e sua não-repetição. Mas para a manutenção do consenso no Plenário, principalmente para apaziguar os elementos conservador e evangelical, criou-se uma série de exigências que dificultam a aplicação da faculdade de não rebatizar. É lamentável, mas ao menos é um progresso.

Observações finais

Na primeira edição, havia uma seção específica de responsos litúrgicos cantados, com as respectivas partituras. A segunda edição traz apenas as letras, remetendo sempre ao Cantai Todos os Povos (CTP), hinário adotado pela IPIB em 2003. Isso não seria problema algum para mim, não fosse o fato de que o CTP com música está esgotado há tanto tempo quanto esteve o próprio Manual. Espero sinceramente que a Pendão Real resolva isto num futuro próximo.

O Prefácio faz notar que, na Ordem do Culto Dominical, o Manual adota o modelo de duas leituras bíblicas com um Salmo entre elas. Esse sistema, defasado, vem do antigo Worshipbook, da então UPCUSA, da década de 1970. O próprio Prefácio faculta ao liturgista usar este sistema ou o do BCW, que obedece ao Lecionário Comum Revisado (LCR), um guia de leituras bíblicas para o ano litúrgico empregado pela maioria dos protestantes (os romanos têm um lecionário próprio, pois precisam encaixar os livros deuterocanônicos na tabela). O que causa estranheza é que o próprio Manual traz em anexo o LCR (e nenhum outro). Ora, se a única orientação de leitura que temos é o LCR, a Ordem do Culto deveria por padrão obedecê-lo, e dar a opção de reduzir uma leitura, não o contrário.



Uma pequena inconsistência entre as edições do Manual: parece-me que nas ordens da primeira edição, não havia rubricas relativas à postura do povo (de pé, sentados, de joelhos), que por outro lado estão presentes nas liturgias mais recentes. Tais rubricas fazem falta principalmente quando a congregação acompanha a liturgia por escrito. É contraproducente, para a reverência e a fluidez da liturgia, ter de interrompê-la a todo tempo para determinar à congregação que fique de pé, que se sente ou se ponha de joelhos.

Nota-se também em todo o Manual certa inconsistência na tradução bíblica empregada. Nas liturgias oriundas da primeira edição, predomina a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Em liturgias incluídas nesta edição, vai-se e volta-se bastante entre a NTLH e a Almeida Revista e Atualizada, que é a tradução mais usada no presbiterianismo brasileiro. Aliás, a própria linguagem das novas liturgias parece ter ido em uma direção mais formal do que as antigas ("tu", "vós", em vez de "você", "vocês").

Talvez a questão das traduções bíblicas adotadas valha um post separado, assim como as diferenças e inconsistências entre edições do Manual do Culto/IPIB. Também em posts futuros, eu farei uma avaliação de cada liturgia do Manual, comparando entre elas, suas correspondentes de outros Manuais e Liturgias, e as nossas próprias impressões e convicções.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Obrigado pelo comentário.
Gostaria de saber como posso adquirir o Manual do Culto da IPIB?
Carlos

Eduardo H. Chagas disse...

Carlos,

Tem um link pra loja virtual da Pendão Real logo no início do artigo.

Abraço!