sexta-feira, 28 de maio de 2010

Liturgia Evangélica 3: Os líderes

Por Michael Spencer (iMonk)

Originalmente publicado em InternetMonk, 16 de agosto de 2009. Traduzido com permissão.

Introdução, Parte 1, Parte 2.

Se você está esperando um tratado completo de Teologia Pastoral, terá de me desculpar. Eu vou falar aqui sobre a relação dos líderes com o serviço de culto propriamente dito, e algumas questões correlatas. O sermão será um tópico separado. Um dos argumentos que eu quero colocar é que o papel do ministro não se resume ao de pregador.

Alguém já perguntou se eu estou dando minhas próprias opiniões ou recomendando o que todo mundo deveria fazer. Eu estou falando inteiramente da minha própria perspectiva nesses assuntos. Estou ciente de que muitos discordarão, e eu não estou nem procurando debate, nem querendo dar a entender que os outros precisam mudar.

Por exemplo, embora eu vá usar o tempo todo o pronome "ele", eu creio que mulheres são vocacionadas e capacitadas para serem líderes pastorais, pregadoras e oficiantes de culto. Se essa vocação e esse dom são reconhecidos por uma congregação, ele deve ser exercido. Eu respeito completamente aqueles que discordam e tenho consciência de que minha posição não é compartilhada por muitos de meus pares.

A chave para a liderança de culto é liderar como servo de Jesus e do povo de Deus. Não é entreter, autopromover-se, chamar a atenção ou roubar a cena, mas sim liderar; ser um meio pelo qual a direção do culto se torne clara e o conteúdo do culto seja comunicado eficazmente de modo que a congregação possa responder apropriadamente.

No caso dos pastores, a liderança consiste de uma vocação e de um relacionamento com Cristo, como uma pessoa capacitada e separada para o trabalho do ministério. Líderes não deveriam se intrometer no culto de uma congregação como mediadores entre ela e Deus, profetas ou salvadores nomeados por Deus. O ministério espiritual do pastor deve preceder tudo o que ele faz no culto, de modo que quando fala ou lidera, ele o faz com o reconhecimento da congregação de que é um servo chamado por Deus para esta congregação, e com a confiança de que uma vocação genuína, e uma capacitação genuína foram discernidos e afirmados nele.

Relacionamentos pastorais dentro da congregação são importantes para a liderança de culto no evangelicalismo. O relacionamento de um pastor com a congregação não pode ser minimizada e a liderança de culto tornada em uma ação feita sem a contribuição de conexões humanas verdadeiras e integridade pessoal. Evangélicos têm causado grande estrago ao culto ao permitir que seus pastores se tornem celebridades e animadores de auditório, e ao não fazer perguntas sobre a fidelidade deles em seus relacionamentos com a igreja.

A liderança de culto não é como trocar o óleo de um carro. O culto nos remete à ação de Deus, mas o líder de culto não é irrelevante ou insignificante. Enquanto o catolicismo romano erra por um lado com a intercambiabilidade do sacerdote, o pentecostalismo tem errado por outro ao tornar o pastor um profeta singular, com autoridade apostólica. O evangelicalismo deveria ver a importância do ministro enquanto pessoa em uma relação com a congregação, mas não pôr ênfase exagerada nessa importância até o ponto em que a fé se esteia completamente na presença do líder certo.

A figura do pastor é bem válida. O pastor cuida de suas ovelhas. Ele não é um mercenário. Ele não é cruel e sem coração. Ele ama seu rebanho, é fiel a ele e está pronto a dar sua vida, imitando o grande pastor, Jesus. Ele aponta para Cristo. Ele é importante, mas Cristo é o mais importante.

É claro, há líderes de culto que não são pastores: músicos, leitores, auxiliares à Mesa do Senhor, dirigentes de oração. O nível de afirmação pastoral é diferente em cada um desses papéis, e cada congregação será um pouquinho diferente com relação a quem ela aceitará como líder de culto. É possível errar ao ser mesquinho demais quanto ao ministério da liderança de culto, mas também se é possível errar ao ser aberto demais, e colocar-se algumas pedras de tropeço ao culto da congregação. Pastores e presbíteros deveriam deixar claro que, em cada ato da liderança, eles estão representando ao mesmo tempo a Deus e à congregação.

O líder de culto deve ser sério. O culto é freqüentemente atrapalhado, se não arruinado, pelo líder que precisa fazer piadinhas o tempo todo para aliviar a própria tensão. O culto não precisa ser carrancudo, mas é uma atividade séria e sagrada. Tão logo ele comece, guarde o comediante stand up que há dentro de você. A maneira com que um líder de culto aborda o culto indica o reconhecimento que ele dá à presença de Deus e à presença de Deus com seu povo.

As Cartas Pastorais deixam claro que a liderança do culto é trabalho. Ela deve ser encarada com uma preparação séria. Preguiça na liderança do culto é freqüentemente refletida em frases como "o Espírito Santo me mandou fazer" alguma coisa. É uma desculpa esfarrapada para chegar despreparado ao trabalho mais importante da semana. O ministro deve ser um trabalhador com habilidade e diligência, e não ter medo de ser avaliado em suas habilidades de liderança de culto.

Os trajes do ministro não devem distrair ou causar escândalo. Eles não devem ser ostensivos. Há muito que se recomendar o uso da toga, ou de paramentos discretos, nas igrejas em que se usa isso.

Uma completa informalidade no vestir não significa necessariamente uma falta de seriedade no culto, mas algumas formas de traje informal podem ser uma grande fonte de distração para alguns membros da congregação. Não busque ofender para poder exercitar sua liberdade. Sirvam um ao outro em amor.

(Da mesma forma, não deixe idólatras materialistas determinarem que você gaste fortunas em roupas. Vista-se discretamente para que sua roupa simplesmente não seja objeto de discussão).

O líder de culto deve ter um senso de decoro. Eles devem valorizar o culto como uma atividade realizada na presença de Deus, diferente de outras atividades.

Uma boa voz e boa habilidade de leitura são importantes. Não imite as inflexões vocais e maneirismos dos outros. Mas use o bom exemplo de bons oradores e líderes para melhorar a si mesmo.

O líder de culto deve ter uma noção de tempo e dos limites da participação física em qualquer coisa. Não deixe as pessoas com dor ou viajando distraídas de tédio.

O líder de culto deve ser profundamente comprometido com a participação de todos, de todas as idades e capacidades. Isso deveria refletir em todos os aspectos da liderança de culto, especialmente na direção do uso da música. Muitas igrejas exercem pouca ou nenhuma supervisão ou disciplina sobre os líderes de música. Na verdade, o tratamento dos músicos e vocalistas como "líderes de louvor" é questionável, na minha opinião. Na melhor das hipóteses, eles auxiliam a congregação em sua adoração. "Músicos" me parece mais correto e sem as conotações bizarras que se acumularam em torno da expressão "líderes/ministros de louvor" nos últimos 20 anos. Procure "ministro de louvor" [em inglês, "worship leader", equivalente de "líder de culto", N. do T.] no Google Images. Só dá cantores e guitarristas. Isso é ruim.

Não é necessário que o líder seja academicamente treinado, mas é importante que, seja qual for a educação necessária para se assumir tal liderança, ela seja encarada sem reclamação e com abertura à melhora.

O líder de culto deveria ser o primeiro a ter consciência de suas próprias fraquezas e estar pronto a adotar mudanças ou buscar ajuda para mudar.

O líder de culto não deve ser uma cheerleader, um terrorista, torturador de ovelhas ou um mercador de culpa e manipulação.

O líder de culto não deve ser indiferente à presença de visitantes e não-cristãos, mas deve liderar a congregação e o povo de Deus em primeiro lugar; a clareza, a simplicidade e a explicação para os "de fora" são uma preocupação importante, mas secundária.

O líder de culto deve ser maduro na fé. Não um neófito ou um iniciante. Não uma causa de vergonha pública. Muitas pessoas que podem muito bem ter os dons necessários para a liderança de culto não deveriam ser líderes de culto por causa do estado de suas vidas e relacionamentos pessoais.

O líder de culto deve saber como dirigir uma oração pública simples, breve, direta, sem enrolações e sem usar "na tua presença" e "ó Senhor" como se fossem vírgulas.

O líder de culto deve ser partidário da tradição, e uma pessoa com a habilidade de ser criativo e flexível. Nenhum desses traços deve predominar à custa do outro.

Os gostos do líder de culto não devem ditar tudo o que diz respeito ao culto.

2 comentários:

leo disse...

Olá meu irmão. Você sabe de alguma igreja presbiteriana ou batista bastante litúrgica em BH?

Eduardo H. Chagas disse...

Rapaz, acho que o ápice da liturgia presbiteriana em Belo Horizonte é a Primeira IPB, o que não é muito mas é melhor que nada.

Não sei como é a IPI por aí, nem se os batistas tradicionais fazem algum tipo de liturgia formal ou se é só o sanduíche de hinos.

Em último caso tem os luteranos...