O Livro de Oração Comum de 1559 |
(tradução do artigo A conservative Reformation, part II, originalmente publicado no blog The Old Highchurchman, editado pelo Bispo P.D. Robinson, sufragâneo da United Episcopal Church dos Estados Unidos. A Sociedade pela Liturgia Reformada agradece a gentil autorização de D. +Peter para traduzir e publicar esta série de artigos).
As convicções religiosas de Isabel parecem não ter sido uma grande força motriz em sua vida pelos padrões da época, mas ficava claro, não obstante, que ela preferia o protestantismo. Ela tinha sido, afinal, educada por humanistas cristãos de persuasão reformada, como John Cheke, e ela dissimulou, quanto à questão religiosa, tão bem quanto somente ela sabia dissimular, ao longo de todo o reinado de sua meia-irmã. Mesmo que ela tivesse tido uma educação menos protestante, visto que a Igreja Romana havia declarado o casamento de sua mãe inválido, e ela mesma uma bastarda, ela não estava predisposta a permanecer sob obediência papal. Ficou claro, portanto, que tão logo quanto possível ela repristinaria o Ato de Supremacia como o primeiro passo em direção à definição da questão religiosa. A Inglaterra logo rompeu com Roma, tendo o Parlamento declarado Isabel "Governadora Suprema... na terra" (e não "Cabeça Suprema", como se acredita popularmente) da Igreja da Inglaterra. Aí passa-se um curioso período de inércia de alguns meses, enquanto Isabel faz pesquisas e permite que o novo rompimento com Roma se consolide. Parece ter havido uma espera necessária, primeiro pelo recesso de Natal do Parlamento e, segundo, para permitir que Isabel e o Gabinete preenchessem as dioceses vacantes, já que todos os bispos de Maria, menos dois, renunciaram ou foram despojados.
O sinal mais claro de onde a política religiosa de Isabel levaria foi a Conferência de Westminster, ocorrida no início de 1559, projetada como um sinal de reaproximação do campo protestante. Ao mesmo tempo, o segundo Livro de Oração Comum de Eduardo VI começou a reaparecer em algumas paróquias-chave, e alguns mais entusiastas começaram a livrar as igrejas dos "ídolos", antes do Governo proibir essa destruição arbitrária.
Alguns meses depois, quando o Ato de Uniformidade apareceu, ele era basicamente uma restauração do status quo conforme era em 1552-3, exceto pelo fato de que Isabel e seu Gabinete fizeram várias emendas conservadoras ao LOC de 1552. Primeiro, "os coros deveriam permanecer como anteriormente"; segundo, os paramentos tradicionais foram restaurados; terceiro, a Rubrica Negra foi removida e as palavras "O Corpo/Sangue do Senhor Jesus Cristo, que foi partido/vertido por ti, preserve teu corpo e alma para a vida eterna" foram adicionadas ao Prefácio da forma mais reformada de 1552; e, por último, a condenação do Papa foi removida da Litania. Todas essas mudanças afastaram a igreja de uma posição mais estritamente reformada, tornando possível alcançar e conciliar os luteranos ingleses.
Para Arcebispo, Isabel escolheu Matthew Parker. Nascido em Norwich a 1504, Parker foi o capelão de Ana Bolena e, então, de Henrique VIII. Ele foi Deão de Stoke-by-Clare de 1536 a 1546, mas depois que o Colégio foi dissolvido no ano seguinte, ele se casou e mudou-se de volta para Cambridge. Foi conhecido por ser um defensor moderado da Reforma, mas depois de ser removido de seu cargo eclesiástico em 1553, foi-lhe permitido viver tranqüilamente em sua fazenda em Suffolk durante o reinado de Maria. Parker era moderado, mas protestante convicto, com uma carreira acadêmica destacada em Cambridge, e foi amigo tanto de Peter Martyr quanto de Martin Bucer. Isabel e Cecil tiveram de trabalhar longamente para convencer Parker a concordar com sua nomeação a Arcebispo da Cantuária, mas ele finalmente a aceitou, e foi consagrado em 19 de dezembro de 1559.
Parker não teve muito tempo para audiências como Arcebispo já que, dentro em poucos meses, ele e seus irmãos bispos publicaram algumas injunções provisórias, modificando certos dispositivos do LOC/1559 concernentes aos paramentos. Isabel também ordenou a restauração de cinqüenta das festas menores do calendário - sem fazer provisões litúrgicas para elas -, proibiu pregações polêmicas e limitou o número de pregadores licenciados. Parker também se esforçou em fazer o pesado maquinário da Igreja da Inglaterra funcionar como uma Igreja reformada.
As fases 1 e 2 do Acordo de Isabel - a Lei de Supremacia e a Lei de Uniformidade - parecem ter encontrado pouca oposição, e não muito entusiasmo. Nos dez anos anteriores, houve quatro grandes mudanças de religião, de modo que a maioria das pessoas estava preparada para ir às suas igrejas e participar do que quer que fosse feito ali. A cuidadosa implementação do Acordo por Isabel e Parker manteve tanto luteranos quanto reformados a bordo, na busca de uma via media entre Wittenberg e Genebra. No entanto, ainda havia a necessidade de produzir algum tipo de declaração doutrinária, o que foi conseguido em uma sessão conjunta das Convocações de Cantuária e York no inverno de 1562-63.
Parece quase certo que o Arcebispo Parker foi a luz-guia na reestruturação dos Quarenta e Dois Artigos de Cranmer para os Trinta e Nove Artigos. Nisto, ele foi auxiliado por Edmund Grindal, Bispo de Londres. As coisas já haviam progredido um pouco nos nove anos anteriores, já que a ameaça anabatista havia recedido e o Concílio de Trento se aproximava de seu fim. A nova redação dada por Parker aos Artigos removeu muitas das referências aos anabatistas, enquanto respostas a alguns dos decretos já publicados de Trento foram incorporadas ao texto. O projeto final foi apresentado a uma Convocação que se encontrava com uma disposição reformada e reformadora. Uma proposta pela remoção dos órgãos das igrejas foi rejeitada por estreita margem, então é de surpreender que os Trinta e Nove Artigos tenham passado pelo necessário debate relativamente incólumes. A Rainha, no entanto, vetou o Art. 29, por ser ofensivo aos luteranos e outros que sustentavam a doutrina da Presença Real antes de 1563. Isto deve ter irritado alguns dos espíritos mais ardentes da ala reformada, mas foi um aborrecimento curto, já que o artigo foi repristinado em 1571, quando a influência do luteranismo na Inglaterra diminuiu, e com ela a necessidade de agradar aos "papistas" da Igreja.
Os Trinta e Nove Artigos, da forma como saíram da Convocação de 1563, são um documento interessante. Parker estava procurando consenso, e na maior parte dos Artigos, parece mais próximo ao espírito da Confissão de Augsburgo do que das várias confissões suíças dos trinta anos anteriores. Os luteranos perderam com o (brevemente suprimido) Art. 29, que adota uma posição claramente reformada. Por outro lado, o conceito luterano de adiáfora - que cerimônias que não sejam claramente contrárias às Escrituras podem ser regulamentadas pela Igreja - está firmemente entrincheirado nos Artigos, o que marca uma séria derrota do partido calvinista.
Os Artigos marcam, de fato, o fim da fase legislativa do Acordo Isabelino (Elisabetano). Teoricamente, a Igreja da Inglaterra tinha uma liturgia reformada, mas empregando ainda os paramentos tradicionais. Os interiores das igrejas deveriam ter sido mudados apenas com a remoção dos altares, crucifixos, gradis de suporte para os crucifixos e as imagens supersticiosas, que deveriam ser substituídas com frases decorativas das Escrituras pintadas nas paredes das igrejas. Sua teologia era protestante, trilhando um caminho intermediário entre o luteranismo e a posição reformada. Seu governo permaneceu nas mãos dos Bispos, em sucessão apostólica, e os territórios e circunscrições das antigas dioceses e paróquias foram mantidos como dantes. Na prática, no entanto, houve concessões de parte a parte.
Para começo de conversa, a eliminação extra-oficial de objetos supersticiosos freqüentemente foi além do estritamente necessário. Órgãos foram removidos de algumas igrejas e deixaram de ser usados em outras. A música sacra estava em uma maré baixa. As igrejas eram cada vez mais empregadas como dois ambientes distintos: a nave para as orações Matutina e Vespertina, e o coro para a Ceia do Senhor. Os paramentos, que não o conjunto de batina, sobrepeliz, capa de asperges, tippet e capuz, parecem ter desaparecido de muitas áreas e não retornariam senão em tempos mais modernos. Alguns ministros - particularmente aqueles da linha que viria a se chamar puritana - omitiam partes da liturgia do LOC para deixar mais tempo ao sermão. Parker agiu contra tais abusos de várias maneiras.
Primeiro, ele deixou claro que a música sacra simples em inglês deveria ser encorajada. Esta provisão foi, depois de alguma hesitação, abraçada com entusiasmo e, gradualmente, as grandes liturgias corais que associamos com o anglicanismo se desenvolveram, vindas da pena de grandes compositores como Thomas Tallis e William Byrd para o uso das catedrais e da Capela Real de Isabel. Parker também promoveu a compilação da "Versão Antiga" dos Salmos de Davi metrificados, um incidente que levou a Igreja da Inglaterra a se tornar uma igreja de salmodia exclusiva em muitos lugares até meados do ano de 1800.
Em segundo lugar, ele e o Arcebispo Grindal de York ordenaram que a Oração Matutina, a Litania e o Culto de Comunhão deveriam ser lidos como um só, em sequência, nas paróquias. Isso facilitou aos magistrados que encontrassem omissões. Isso também levou ao tipicamente anglicano "Culto a seco" de Matinas, Litania e ante-Comunhão, terminando com um sermão. Devido à inércia dos fiéis e a regra reformada de que "não haverá missa sem comungantes", as celebrações da Santa Comunhão caíram em freqüência para uma vez ao mês, uma vez por bimestre ou quadrimestre, dependendo do tamanho da paróquia. Algumas paróquias em cidades grandes e as catedrais mantiveram as celebrações semanais.
Em terceiro lugar, em uma tentativa de assegurar a uniformidade de cerimonial, o Arcebispo exigiu o uso de batina, sobrepeliz, tippet e capuz em todos os cultos das paróquias. Também exigiu o uso da capa de asperges em catedrais e igrejas colegiadas. Paramentos eucarísticos foram deixados desaparecer discretamente, mas permaneceram legais.
Gradualmente, essa via media anglicana consolidou-se para se tornar a religião da Inglaterra, embora no século seguinte (até depois de 1662), tenha havido uma agitação persistente por uma reforma mais extensa para firmar a Inglaterra no campo reformado ou calvinista.
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