terça-feira, 1 de julho de 2008

Presbiterianos & liturgia - Parte 5

Entendendo mal o propósito do culto dominical

Por Jeffrey Meyers

(leia o original aqui)

No meu último post sobre este assunto, eu disse que um dos motivos pelos quais presbiterianos não compreendem e não apreciam a liturgia é a compreensão inadequada do que deve acontecer no Dia do Senhor. Presbiterianos não gostam de liturgia porque não têm cuidado de descobrir qual o propósito fundamental de se reunir no domingo.

Nós somos reunidos por Deus para sermos servidos por ele. O culto dominical é, acima de tudo, o serviço de Deus em nosso favor. Ele nos conduz à sua presença vivificante. Ele nos concede. Nós nos achegamos para receber as dádivas de Deus.



Uma vez, eu conversei com um ministro presbiteriano que estava promovendo seminários sobre o culto reformado por todo o país. Ele sabia do meu interesse pelo assunto e queria me contar o que vinha fazendo. “A primeira e mais importante colocação que eu faço nos meus seminários”, ele disse, “é que o culto reformado é glorificar a Deus. Nós não nos reunimos para receber nada de Deus, nós vamos para dar a ele nosso louvor e honra. Isso é o que marca o culto reformado!”

Bom, eu pensei, isso pode ser verdade e, se for, é um dos motivos pelos quais o povo reformado não consegue se identificar com um culto liturgicamente estruturado. Eles não vêm para receber nada de Deus durante o culto (com a exceção, talvez, do sermão); ao contrário, eles vêm para dar-lhe honra e louvor. Embora tenha se tornado um meio de verificação em meios reformados, esse argumento merece ser questionado. O propósito do culto dominical não é simplesmente louvar.

Muitas obras reformadas sobre o culto adotam essa posição. A primeira frase do livro Worship in Spirit and Truth [“Louvai em espírito e em verdade”, N. do T.] (Phillipsburg: Presbyterian & Reformed, 1996) é a seguinte: “O culto é a obra de reconhecer a grandeza de nosso Senhor da Aliança” (p. 1, ênfase do autor). Ele parte dessa definição ao longo de todo o livro. Eu poderia citar outros autores reformados mais recentes, com o mesmo teor. A maioria deles define o culto como o que o povo de Deus faz, o serviço que eles executam no Dia do Senhor, especificamente a adoração, louvor e honra que eles tributam a Deus.

Certamente, há numerosas passagens que nos exortam a “louvar ao Senhor” e “adorá-lo”. Eu gostaria de alertá-lo, contudo, que em muitos casos a palavra “adorar” não nos tem servido muito bem. Ela não é a melhor tradução das palavras que eram usadas para designar “curvar-se” ou “prostrar-se” (por exemplo, no Salmo 95.6).

Por exemplo, quando somos chamados a “nos prostrar” perante o Senhor, isso não corresponde exatamente ao significado que damos à palavra “adorar”. Lançar-se perante o Senhor é permitir-se ser levantado por ele. É entregar-se ao serviço do Senhor. Com efeito, lancar-se perante o Senhor nos coloca em posição de sermos servidos por ele. Assim, nesses textos, há muito mais do que apenas tributar “louvores” e “honras” a Deus.

Mais do que isso, é muito comum em nosso meio que a entrega de louvores e glórias a Deus seja colocada em oposição à expectativa do adorador de receber qualquer coisa de Deus na igreja. É exatamente essa unilateralidade do “culto é igual a louvor”, que eu creio ser o verdadeiro problema das igrejas reformadas.

Essa postura, às vezes, está vinculada à assertiva, supostamente super-espiritual, de que “nós nos reunimos apenas para louvar a Deus, sem nenhum interesse no que nós podemos receber dele”. E eu afirmo que isso é besteira antibíblica, que pode, e com efeito costuma se infiltrar entre nós como uma ladainha de adoração.

Para nós, como criaturas de Deus, não se pode conceber tal coisa de “louvor desinteressado”. Nós simplesmente não podemos amar ou louvar a Deus pelo que ele é, de maneira desvinculada do que ele nos deu ou do que nós continuamos a receber dele. Nós não somos iguais a ele. A idéia de que puro amor e louvor a Deus só podem ser dados quando desvinculados de tudo quanto ele nos tem feito, não tem qualquer embasamento bíblico. É claro que ela soa bem espiritual e piedosa. Ela até pode ser entendida como renúncia de si mesmo.

Mas a verdade é que não existe esse tal louvor na Bíblia, pelo simples motivo de que não temos como nos achegar a Deus como seres desinteressados, auto-suficientes. Nós somos seres criados. Seres dependentes. Seres que precisam, continuamente, receber de Deus tanto sua vida como sua redenção. Nosso culto a Deus, por esse motivo, necessária e primariamente envolve nossa recepção passiva de suas dádivas, tanto quanto do nosso tributo de ação de graças e nossas súplicas. Não podemos fingir que não dependemos dele. Nós sempre seremos receptores e suplicantes perante Deus. Nossa condição de receptores nos é tão intrínseca quanto nossa dependência. Nós devemos ser servidos por ele. Reconhecer isto é a verdadeira espiritualidade. Abrir-se a essa verdade é o primeiro movimento no nosso “culto”; na verdade, é o pressuposto de todo o culto comunitário. É a postura de fé perante nosso Deus, Todo-suficiente benfeitor. O louvor se segue a isso e não pode ser, isolado, o propósito exclusivo da nossa reunião no Dia do Senhor.

Portanto, acima de tudo, quando nos reunimos no Dia do Senhor, somos chamados por ele para receber, para obter. Isso é fundamental. O Senhor dá, nós recebemos. Visto que a fé é receptiva e passiva em sua natureza, um culto “pela fé” (ou seja, fiel – N. do T.) tem tudo a ver com receber de Deus. Nós recebemos o seu perdão, sua instrução, sua nutrição, sua bênção etc. Nós nos achegamos como aqueles que primeiro recebem, e então, em segundo, apenas em uma troca recíproca, devolvemos aquilo que é apropriado, que são gratos louvores e adoração.

Mais e mais, estou descobrindo quão crucial (pelo menos na atual situação) é essa concepção de culto. É muito freqüente nos círculos reformados e evangélicos que o termo “liturgia” seja traduzido como “o serviço do povo”. Conquanto eu não negue que nós “servimos” durante o culto, eu considero essa concepção perigosamente unilateral. O que quer que nós “façamos” durante o culto, deverá ser sempre uma fiel resposta às dádivas de Deus, de perdão, vida, conhecimento e glória – dádivas que recebemos no culto!

Muito do que se entende por “culto contemporâneo” tem esvaziado o culto dominical do serviço de Deus ao homem! É sempre voltado para o que nós fazemos. A redução do culto cristão a “louvar” e “dar honra ao Senhor”, mesmo que pelo bem-intencionado desejo dos pastores de livrar o culto de formas superficiais de culto, continuará sempre a alimentar isso mesmo que eles vêm combatendo.

Eu ainda tenho mais a dizer sobre isso, então concluirei esse raciocínio em outro post.

3 comentários:

Presb. Rodrigo Elias Delgado disse...

nao concordo quando vc fala que presbiterianos nao gostam de liturgia, cheguei até o seu site porque estou pesquisando sobre liturgia, mas nem vou mais ler porque acho super errado vc julgar dessa forma os presbiterianos, eu sou presbiteriano e em todas as igrejas que eu ja participei existe sim a liturgia, fico muito triste com pessoas como vc que fazem um comentario dessa forma.... oro a Deus para que te abençoe e te ensine a não julgar.

Eduardo H. Chagas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo H. Chagas disse...

Então leia de novo, a partir da parte um, do começo da série, porque você entendeu tudo errado.

O título completo dessa série dos artigos é "Por que alguns presbiterianos conservadores não gostam de liturgia?"

Primeiro, o texto não é meu, é traduzido.

Segundo, ele não "julga", ele busca expliicações para o fato de que boa parte dos presbiterianos, especialmente os mais conservadores, não gostam de cultos de alta liturgia.

Leia de novo, do começo da série, que você vai entender.

Abraço!