segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Valores essenciais: Unidade



Sem. Eduardo H. Chagas

SERMÃO
I Coríntios 1.10-17

Sermão pregado à Igreja Presbiteriana Independente de Araraquara em 26 de janeiro de 2014, 3.º Domingo do Tempo Comum, Ano A.


INTRODUÇÃO

No Brasil existe um ditado, com o qual nós não podemos concordar, de que “política, futebol e religião não se discute”. Nós bem sabemos por que o ditado existe. É muito difícil para pessoas que têm opiniões diferentes nesses três assuntos trocar ideias de forma racional, objetiva, sem que as paixões que esses assuntos despertam façam o debate esquentar.



No futebol é inevitável, a paixão pelo nosso clube sempre vai fazer com que a gente acredite que, por pior que tenha sido a última campanha, dessa vez ele sobe, ou este ano seremos campeões. Não importa quantos argumentos racionais o nosso debatedor aponte para mostrar que, ou por causa do elenco, ou do esquema tático, ou do grupo em que o time caiu, a vitória é impossível. Isso é procurar briga!

Na política, essas paixões também se mostram com uma força enorme. Todo cidadão bem informado tem suas ideias sobre qual é a melhor forma de conduzir a vida em sociedade, qual a melhor forma de administrar a Cidade, o Estado, o País. Uns acreditam mais na presença do Estado, outros preferem o livre mercado e a iniciativa privada. Uns acreditam em comunismo, outros em capitalismo. Todos querem o bem da sociedade, querem o melhor para o nosso país. Os partidos políticos surgem justamente da reunião de pessoas com os mesmos ideais políticos. Mas invariavelmente, a paixão pelos seus ideais faz com que um rejeite totalmente a validade das ideias do outro. E numa conversa entre partidários opostos, não demora para a discussão degenerar e virar briga pura e simples. “Não é possível que ele acredite nessas bobagens! Ou ele é burro, ou é um safado que quer se aproveitar”. Muitos aqui viveram isso no tempo da ditadura: quem era do MDB não conseguia nem sentar pra comer na mesma mesa de um Arenista sem virar briga. Hoje, um petista radical e um tucano radical têm a mesma dificuldade.

No texto que nós acabamos de ler, nós vemos Paulo repreendendo esse tipo de atitude dentro da Igreja. Da mesma forma que hoje nós vemos as pessoas formando partidos para defender ideias políticas, e muitas vezes se inflamando contra quem defende ideias diferentes, no texto de hoje vemos os cristãos de Corinto formando partidos e se inflamando, não em torno de ideias, mas de pessoas. E assim como na política, não bastava para eles defender uma posição, era preciso combater as outras. Com todo partidarismo surgem contendas. E as contendas que surgiam estavam ameaçando a unidade da Igreja de Corinto.

I – O PARTIDARISMO AMEAÇAVA A UNIDADE DA IGREJA DE CORINTO

Pelo que sabemos a respeito de I Coríntios, essa carta foi escrita enquanto Paulo trabalhava na Igreja de Éfeso, perto da Páscoa do ano 55. Por esse tempo, a Igreja de Corinto mandou três mensageiros a Éfeso, Estéfanas, Fortunato e Acaico, para tirar dúvidas com Paulo sobre assuntos diversos da vida cristã. E o Apóstolo vai tratar desses assuntos diversos ao longo de I Coríntios: sobre o casamento, sobre comida sacrificada a ídolos, sobre os dons espirituais, sobre a oferta para ajudar a Igreja de Jerusalém.

Mas, logo depois da saudação e da ação de graças, que são a abertura de toda carta, o primeiro assunto de que Paulo trata em I Coríntios, a sua primeira preocupação, aquela de que ele precisa tratar antes de mais nada,  é um assunto que não foi trazido pelos mensageiros da Igreja de Corinto. Paulo destaca que esse assunto chegou a ele por meio dos “da casa de Cloe”. Três mensageiros enviados pela Igreja foram ter com Paulo e não falaram da situação de contenda, da situação de ameaça de divisão, que a Igreja estava vivendo. É como se a Igreja de Corinto estivesse tentando esconder isso do Apóstolo.

E a situação era a seguinte: tanto em Éfeso quanto em Corinto, a posição de Paulo como um apóstolo do Senhor Jesus era questionada. Paulo mesmo vai dizer mais adiante que ele é como um nascido fora do tempo, o último a quem o Senhor Jesus apareceu. O menor dentre os apóstolos e até indigno de ser chamado de apóstolo. Mas não obstante, apóstolo, sim, detentor da autoridade de enviado de Cristo, não por mérito seu, mas pela graça de Deus. “Pela graça de Deus, sou o que sou”.

Além disso, numa Igreja tão cheia de diversidade como Corinto, Paulo não agradava nem aos gostos dos gentios, dos gregos, e nem ao gosto dos judeus. Os gregos tinham, por causa da sua cultura, um gosto por boa oratória, boa retórica, por “sabedoria de palavras”. Paulo declara que propositadamente não fazia uso dos recursos da oratória e da filosofia clássica grega, para que as técnicas não tomassem o lugar da cruz de Cristo na sua pregação. Isso fazia os cristãos de cultura grega preferirem a pregação de Apolo, que era mais antenada com a cultura deles.

Por outro lado, os judeus sentiam a necessidade de sinais extraordinários que confirmassem a origem divina da pregação. O próprio Senhor Jesus sempre teve de lidar com essa expectativa dos judeus. E Pedro, ou Cefas, tinha uma comunicação bem melhor com os judeus nesse sentido.

Então, temos aí alguns que preferiam Apolo, outros que preferiam Cefas. Mas outros tinham um débito de gratidão pessoal com Paulo: foi por meio do trabalho incansável de evangelização dele em Corinto, da sua pregação direta, sem grandes recursos de estilo, mas focada na cruz de Cristo, no sacrifício do Senhor pelos nossos pecados; foi por meio de Paulo que eles foram alcançados por Cristo. Paulo vai afirmar isso no capítulo 4: “eu, pelo Evangelho, vos gerei em Cristo Jesus”. E, por isso, muitos consideravam ter um débito pessoal de gratidão e de lealdade por ele, que, diante da formação dos outros “partidos” dentro da Igreja, só poderia acabar na formação de um partido próprio em favor de Paulo: “Eu sou de Paulo”.

E havia ainda aqueles que rejeitavam qualquer partidarismo em torno de apóstolo, ou evangelista, ou pastor, e pretendiam viver a vida cristã sem intermediários, contando apenas com o Espírito Santo para guiá-los: “eu sou de Cristo”. Aparentemente, uma ideia muito mais correta, muito mais nobre, muito mais “espiritual” do que o partidarismo em torno deste ou daquele apóstolo. Mas inevitavelmente, até mesmo isso se tornou partidarismo, e o que é pior, um partidarismo com um verniz que se pretendia mais “espiritual” do que os outros. Por mais grave que seja a formação de partidos dentro da Igreja, transformar o nome de Cristo em partido, em nome de uma pretensa espiritualidade mais elevada, é ainda mais grave, e só serve para acirrar ainda mais as disputas dentro da Igreja. Se esses aqui são de Cristo, quer dizer que os outros não são? Então os outros são falsos cristãos, e só nós, os “de Cristo”, somos os verdadeiros?

Se é assim, é preciso eliminar os falsos irmãos do nosso meio. E cada grupo passava a pensar dessa mesma forma a respeito dos outros. Assim, o partidarismo ameaçava a unidade da Igreja de Corinto.

Na Carta aos Gálatas, Paulo vai enumerar as contendas e divisões no seio da Igreja entre as obras da carne. Deus reprova a prostituição, a idolatria, a feitiçaria, da mesma forma que ele reprova ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções. Não importa que verniz, não importa que pretexto de espiritualidade, de busca do bem da Igreja, seja usado. Salomão, em Provérbios 6, vai mais longe, para dizer que Deus aborrece, detesta, olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal. Mas Deus abomina, tem nojo, tem horror, desprezo pelo que semeia contendas entre irmãos.

Em I Coríntios 3, Paulo vai lançar um balde de água fria na pretensa espiritualidade dos crentes de Corinto, que se achavam todos cheios do Espírito Santo, cheios dos dons, dos poderes, possuidores de uma relação especial com Deus. Paulo, ao contrário diz: “Não pude falar a vocês como espirituais, e sim como carnais, como crianças em Cristo”. “Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens?”

O partidarismo, com as contendas que ele gera, ameaçava a unidade da Igreja de Corinto. E ainda hoje, o partidarismo ameaça e põe a perder a unidade da Igreja de Cristo.

II – AINDA HOJE O PARTIDARISMO AMEAÇA A UNIDADE DA IGREJA

Uma das maiores evidências de que a Bíblia não é apenas um livro qualquer, mas que é Palavra inspirada de Deus, é a incrível atualidade do seu texto para as nossas vidas hoje. Mas com relação ao texto de I Coríntios 1, na verdade é vergonhoso para nós que ela continue tão atual para a Igreja do século XXI quanto era para a Igreja de Corinto dois mil anos atrás.

Da mesma forma que os coríntios não souberam ser Igreja sem se dividir em partidos, sem colocar acima da unidade da Igreja as suas ideias sobre o que é ser Igreja; muitas vezes nós também não sabemos viver em Igreja sem promover o partidarismo. Assim como acontece na política partidária, muitas vezes acontece de colocarmos a nossa visão, a nossa ideia de como devemos ser, viver e fazer Igreja, acima até mesmo das pessoas, acima da nossa comunhão com os irmãos. Nós não sabemos conviver com ideias diferentes dentro do seio da Igreja. Eu não consigo enxergar Cristo no meu irmão se ele não pensar exatamente igual a mim.
E todos nós podemos observar isso na vivência da Igreja hoje. Exemplos não nos faltam. Assim como os coríntios, dos quais uns se alinhavam com Paulo, outros com Apolo, outros com Cefas, por vezes nós colocamos a nossa admiração e lealdade para com este ou aquele líder acima da unidade da Igreja. Quantas vezes vimos igrejas se dividindo por causa da saída deste ou daquele pastor, ou por causa da eleição deste ou daquele presbítero? “Se não tiver o pastor X, eu saio e ainda levo metade da Igreja comigo”. Ou “se for pra esse outro pastor ficar, eu prefiro que a Igreja acabe”. “Se for pra ter o Fulano como presbítero, eu vou embora daqui!”

Outras vezes nós colocamos as formas de ser e de viver a Igreja acima da unidade dela. Quantas vezes nós já vimos igrejas se dividindo porque o culto é tradicional demais, ou porque é avivado demais; porque a liturgia é detalhada demais e vem tudo no papel pra gente ler; ou porque ela é improvisada demais, e os dirigentes inventam tanta coisa que a gente fica perdido sem saber o que fazer. Ou porque eu acho que o pastor tinha que pregar igual aquele outro pastor que aparece na televisão, ou no rádio, ou na internet. Ou porque ele prega de toga, ou porque ele prega de terno, ou porque ele prega de calça jeans e manga de camisa.

Eu transformo o meu gosto, o meu jeito preferido de ser Igreja no único cor-reto, no único válido. E se não for do meu jeito, não é meu irmão.

A mesma coisa nós vemos acontecendo por causa de música na igreja, ou por-que é tranquila demais, ou porque é alta demais. Ou porque é antiga demais, ou por-que só tem música nova que ninguém conhece, e ninguém canta as antigas mais.

A mesma coisa nós vemos acontecendo por causa da organização da Igreja. Ah, é burocrática demais, ficar fazendo reunião, plenária, aprovando livro de ata. Se o trabalho for de sociedade interna eu não vou, só vou se for ministério. Ou porque o trabalho é bagunçado demais, cada um faz do jeito que acha melhor. Ou porque é personalista demais: se não tiver um líder forte, o trabalho não anda, mas aí se o líder for o Fulano eu também não vou, e ainda boicoto pra ninguém mais ir.

O partidarismo, ainda hoje, ameaça a unidade da Igreja de Cristo.

Irmãos, é perfeitamente natural que nós tenhamos opiniões diferentes de co-mo as coisas são e de como podem ser melhoradas dentro da Igreja. Essa diversidade enriquece a vida da Igreja. Mas a partir do momento em que colocamos a nossa opinião de como a Igreja deve ser e funcionar acima da unidade, acima da comunhão, o nosso objetivo já deixou de ser o bem da Igreja e passou a ser a nossa satisfação pessoal.

Tiago vai nos dizer que as guerras e contendas dentro da Igreja tem origem “nos prazeres que militam na nossa carne”. Em outras palavras, é da nossa busca egoísta pela nossa própria satisfação pessoal que vem as contendas e divisões. Não importa que boa causa, que bom pretexto eu invoque para fazer partidarismo dentro da Igreja: a partir do momento em que eu coloco essa causa acima da unidade do Corpo de Cristo, eu não estou procurando o bem da Igreja, eu estou buscando a minha satisfação pessoal. Estou querendo mostrar quem é que manda, quem é que pode mais.

Quando surgem “lados” dentro da Igreja, eles invariavelmente começam a hostilizar um ao outro, rivalizar um com o outro; eles contendem e, quando um conquista a maioria, muitas vezes faz o possível para eliminar o outro lado do seio da Igreja. O partidarismo dentro da Igreja sempre se torna a busca do poder, do domínio de uns sobre os outros, a clara divisão entre vencedores e perdedores, sendo que o dever dos perdedores é se enquadrar ou se retirar.

Nós nos esquecemos a quem a Igreja pertence. De quem ela é Noiva. E de que o Noivo dela, Jesus Cristo, é extremamente ciumento com ela, extremamente zeloso, extremamente cuidadoso com ela. E o Noivo não vê com bons olhos aqueles que, por motivo de satisfação pessoal, querem amputar os membros dela.

Então, qual é o caminho?

III – O AMOR DE CRISTO É O CAMINHO PARA A UNIDADE DA IGREJA DE CORINTO

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.”

O Apóstolo Paulo não floreia, não faz rodeios, não faz uma introdução ao as-sunto. Não começa explicando por que tem de ser assim. Ele nem sequer começa falando como ele soube da ameaça de divisão na Igreja de Corinto. Quando a carta foi lida da primeira vez em Corinto, todo mundo deve ter ficado imaginando “como Paulo sabe que está acontecendo isso?”. A primeira coisa que ele faz no texto de hoje é atacar o problema de frente.

A nossa tradução, Almeida, é até delicada na escolha do primeiro verbo: “Rogo-vos”. Outras traduções possíveis são: eu vos exorto, eu vos insto, eu vos imploro. Sejam unidos. Não sejam divididos. Em nome de Jesus.

E o oposto de sermos divididos, para Paulo, é que nós falemos todos a mesma coisa, que tenhamos a mesma disposição mental e o mesmo parecer. Em outra tradução, “tenhamos o mesmo entendimento, cheguemos à mesma conclusão”.

Isso significa que não pode existir uma diversidade de ideias dentro da Igreja? Que tudo deve ser milimetricamente igual e uniforme? Absolutamente não! O mesmo Deus que inspirou o salmista a exclamar “Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas” não pode ser um Deus que se alegra com uma uniformidade monótona e imutável. E não é.
Falarmos a mesma coisa, termos a mesma disposição e parecer significa, sim, que uma única e mesma coisa deve ocupar de forma central o nosso pensamento e o nosso discurso, enquanto Igreja, enquanto Corpo de Cristo. Essa nossa única preocupação deve ser a boa-nova do amor de Cristo por nós.

A maioria dos comentaristas concorda que o assunto central da I Carta aos Coríntios é o amor. E o amor na verdade é a resposta pra todas as perguntas que os mensageiros de Corinto foram fazer pra Paulo. Se os coríntios amassem a Cristo e aos seus irmãos que eram mais fracos na fé, abririam mão de comer comida sacrificada na frente deles para fazê-los tropeçar. Se os coríntios amassem a Cristo, não causariam confusão na Igreja e no culto querendo uns mandar mais do que os outros; uns ter dons mais espetaculares do que os outros. Se os coríntios amassem a Cristo e uns aos outros, não profanariam a Santa Ceia, com alguns passando fome enquanto outros se empanturravam e se embriagavam com o vinho do Sacramento. Se os coríntios amassem a Cristo e aos irmãos, valorizariam a família e o casamento, e desprezariam a imoralidade. Se os coríntios amassem a Cristo e ao próximo, não levariam os irmãos a juízo diante da Justiça secular, mas à Igreja. E se os coríntios amassem a Cristo e aos irmãos, um irmão não daria calote no outro pra começo de conversa.

Nós já falamos disso aqui: o amor de que estamos falando aqui não é sentimento, não é enxergar flores e coraçõezinhos quando pensamos no nosso irmão, principalmente no irmão custoso, que dá trabalho. Amar, no sentido em que eu estou falando aqui, é procurar primeiro o bem do outro, às vezes até mesmo em prejuízo do meu próprio bem, da minha própria satisfação.

Não foi isso que Jesus Cristo fez por nós, abrindo mão da sua glória, da sua onipotência, onipresença, onisciência, assumindo a natureza de homem, nascendo num curral em Belém, sendo preso, torturado e morto, entregando a sua vida em favor dos nossos pecados e ressuscitando ao terceiro dia? Jesus, com prejuízo da sua glória divina, do seu conforto, do seu bem-estar, abriu mão da sua própria vida para nos reconciliar com Deus, e nos trazer para dentro dessa relação de amor em que existem eternamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Essa é a boa-nova que Paulo anunciou aos coríntios, sem enfeites e recursos, mas com toda sinceridade e autoridade. Esse é o Evangelho que ele vai relembrar no capítulo 15. Esse amor de Cristo é o tipo de amor que Paulo vai cantar como sendo o caminho sobremodo excelente no capítulo 13: “Ainda que eu faça as coisas mais maravilhosas, se não tiver amor, nada serei”. O amor que se entrega, que se sacrifica, vale mais do que qualquer outro ideal sobre a vida da Igreja. Na verdade, o amor deve ser o ideal que norteia a vida da Igreja. Não o amor sentimento, mas o amor como decisão de auto-entrega em favor de Deus e do próximo.

A boa-nova do amor de Cristo é aquilo que deveria unir a mente, a opinião, o discurso e a prática da Igreja de Corinto, para que ela conservasse a unidade. O amor de Cristo era o caminho para a unidade da Igreja de Corinto. E, da mesma forma, o amor de Cristo é o caminho para a unidade da Igreja hoje.

IV – O AMOR DE CRISTO É O CAMINHO PARA A UNIDADE DA IGREJA HOJE

Todo mundo que tem um pouquinho de vivência na Igreja, que tem alguns quilômetros de caminhada como Igreja, sabe o quanto, muitas vezes, é difícil buscar a conciliação e a unidade. Muitas vezes a nossa discordância sobre como fazer as coisas, como melhorar o trabalho, como alcançar mais pessoas com o Evangelho, acaba se tornando maior até mesmo do que a nossa consideração pelos irmãos na fé.

Nós precisamos manter firmes em nossa mente o porquê de nós sermos Igreja em primeiro lugar. Se não fosse pelo amor que se doa, pelo amor que se entrega e se sacrifica, manifesto por Deus na encarnação, morte e ressurreição do Senhor Jesus, tudo isso para nos resgatar, nos reconciliar com ele, se não fosse por esse amor, nós nem estaríamos aqui. Nós nem seríamos Igreja. Nós estaríamos jogados pelo mundo, escravos do pecado, afastados e inimigos de Deus, apenas aguardando o seu julgamento e condenação por todo o nosso mal.

Se não fosse pelo amor dele, nós nem estaríamos aqui. Não teríamos a preocupação de salvar vidas e almas. E não teríamos como discordar sobre qual o melhor jeito de fazer isso.

Então, antes de nos levantarmos para brigar com nossos irmãos sobre o que o Coral deve cantar ou deixar de cantar, o que o Coral deve vestir ou deixar de vestir, o que o conjunto deve cantar ou deixar de cantar, sobre como deve ser o culto e a música, sobre como deve ser a pregação, sobre a roupa do pastor, sobre como deve ser a atuação da Diaconia, sobre como deve ser a Escola Dominical e a educação cristã na Igreja, antes de abandonar a igreja por causa desse ou daquele pastor, desse ou daquele presbítero... antes de nos levantarmos para esfregar a nossa opinião na cara daquele irmãozinho que só pode ser burro pra dar uma sugestão daquelas... antes de queremos deixar a Igreja e desejar o mal dela por causa de todos esses detalhes da vida em Igreja... Eu preciso ter em mente que eles são exatamente isso, meros detalhes.
Eu preciso ter em mente que o principal assunto na mente e no discurso da Igreja não deve ser essa ou aquela ideia de como fazer melhor, esse ou aquele ideal do que precisa ser melhorado. O principal assunto na nossa mente e no nosso discurso, aliás, o único assunto, a “mesma coisa” que nós devemos pensar e falar, deve ser o amor de Cristo, e esse amor, se doa, que se entrega para a nossa salvação. O amor que abre mão da sua satisfação pessoal, porque a salvação é mais importante.

Esse deve ser o nosso padrão e o nosso teste. Se eu estiver participando de alguma equipe, de algum ministério na Igreja, mesmo uma aula, e um irmãozinho faz uma sugestão que eu considero ridícula, e o que é pior, ela é aceita e posta em prática, e isso me enfurece de tal forma que eu chego a pensar em abandonar o ministério e até a Igreja... é hora de repensar: por que eu estou aqui? Por que eu estou aqui participando? Se a resposta não for “porque Cristo me amou e deu a vida por mim, e eu quero passar esse amor adiante”, a resposta está errada. Eu preciso rever os meus conceitos.

Enquanto o amor de Cristo for o nosso norte, enquanto o amor que se doa, que abre mão da sua satisfação pessoal para salvar a vida e a alma do próximo, for o motivo que nos une no trabalho e na vida da Igreja, Cristo vai nos conservar unidos, por meio desse mesmo amor.

Irmãos, falemos todos a mesma coisa. Sejamos inteiramente unidos na mesma disposição e no mesmo parecer. Não haja entre nós divisões.

Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

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