segunda-feira, 29 de março de 2010

Paramentos

Por Douglas Wilson

Originalmente publicado em inglês em Credenda Agenda, em 19 de setembro de 2009.

Nota do Editor: Embora o Blog não subscreva todos os pontos de vista expressos pelo autor deste artigo, ele levanta alguns contrapontos práticos que geralmente passam em branco na reflexão dos partidários de um protestantismo reformado
high church.


Ao lidar com a questão dos trajes clericais, quer dentro do contexto de um Culto Público, quer fora dele, é difícil limitar a discussão a uma questão, apenas. Por exemplo, a questão de "usar paramentos" é uma questão. A questão de que esse uso seja obrigatório ou não, é outra, e ambas às vezes se sobrepõem. Nos estágios iniciais da Reforma inglesa, John Hooper voltou à Inglaterra no meio do reinado de Eduardo VI, e, dado o seu prolífico ministério no púlpito, foi-lhe oferecido o bispado de Gloucester. Ele declinou do cargo por ter escrúpulos quanto ao uso obrigatório dos trajes exigidos pelo Ordinal. Por sua recusa, foi lançado na prisão (por ninguém menos que Cranmer), e uma polêmica se iniciou.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O incomum Livro de Oração Comum: ainda um best-seller, depois de 450 anos

Artigo originalmente publicado em inglês na revista Reformed Worship, n.º 53, Setembro de 1999.

Por Paul E. Detterman*

Por quanto tempo o povo de Deus tem debatido sobre a linguagem e a ordem do Culto? Por quase tanto quanto ele tem se reunido para orar e louvar a Deus.

A história da Igreja cristã tem sido marcada por épocas de estabilidade, quebradas por períodos de reforma. Quase sem exceção, o repensar da fé da Igreja (Teologia) tem inspirado a revisão do culto da Igreja (Liturgia), nem sempre nesta ordem. A oração, em uma tradição, precisa ser extemporânea (espontânea), ou não será considerada autêntica. Um século depois, aqueles que herdaram a tradição da oração extemporânea estão publicando livros de oração em um esforço para render ações de graças e intercessão a Deus em um estilo e forma considerados mais dignos da atenção divina. Os salmos metrificados de uma geração são os hinos empolados da próxima. Livros de oração, hinários, ordens de culto e lecionários vêm e vão. Governos e denominações ascendem e caem. E através disso tudo, alguns elementos da fé histórica e do culto da Igreja persistem.

O Pentecostes de 1999 marcou o 450.º aniversário do Livro de Oração Comum (LOC). Anglicanos fazem lembrar, com desculpável orgulho, que este é o mais antigo livro de culto em uso contínuo na Igreja de língua inglesa. Estantes de biblioteca, índices de periódicos e páginas da internet estão repletos da história detalhada e da análise exaustiva d'O Livro de Oração.

Mas esse aniversário não é simples curiosidade histórica, nem sua comemoração deve ser limitada aos cristãos que respondem a Cantuária. Historiadores da Igreja e teólogos do culto rapidamente nos lembrarão que muita da linguagem do LOC é familiar para incontáveis cristãos que nunca nem mesmo seguraram um exemplar em suas mãos. Esse livro de culto tão incomum, originalmente concebido uma geração antes de Shakespeare, continua a moldar a vida e a fé de cristãos de todo o mundo.

Origens do Livro de Oração Comum

Embora cristãos reformados, luteranos e anglicanos todos derivem uma porção significante de sua teologia e culto das reformas que aconteceram no século XVI, a Igreja da Inglaterra foi única tanto na origem como no resultado de sua reforma. O infame rei britânico Henrique VIII desafiou a autoridade do Papa e conduziu a Igreja da Inglaterra para fora de Roma por motivos tanto pessoais quanto políticos. Liturgia e oração estavam bem embaixo na lista das reclamações do rei. Como resultado, a reforma litúrgica seguiu a separação política a uma distância segura.

Não foi senão com a morte de Henrique em 1547 e a coroação de Eduardo VI (que ocorreu entre uma sonequinha e uma troca de fraldas do novo rei) que a reforma da Igreja inglesa floresceu. Em janeiro de 1549, dois breves anos após a morte de Henrique, uma comissão presidida por Thomas Cranmer, o longevo Arcebispo de Cantuária, compilou e apresentou um livro de oração para a aprovação da Convocação da Igreja e do Parlamento. Essa primeira edição do LOC seria extensamente revisada três anos após (1552) e subseqüentemente, banida durante o reinado de Maria I, "a Sanguinária" (1553-1558). Porém, a influência de sua estrutura e o poder de seu texto mudaram a Igreja.

Católico e Reformado

Embora pareça ser grosseria discutir genealogias em uma festa de aniversário, cristãos reformados e luteranos devem se lembrar de que, de muitas maneiras, o LOC é, em parte, nosso livro também. O Arcebispo Cranmer estava bem a par do progresso da reforma da Igreja no continente. Ao longo das décadas de 1520 e 1530, ele viajou pela Europa a serviço de Henrique VIII, e tomou contato com os ensinamentos dos reformadores, dentre os quais Lutero e Calvino, e aprendeu a política da reforma. Cumpre dizer que Cranmer foi essencial para a ida de intelectuais luteranos, calvinistas e zwinglianos para postos-chave das universidades da Inglaterra. As ordens de culto, as posturas e a linguagem das orações, e o entendimento dos sacramentos contidos no Livro de 1549 refletem uma síntese complexa das teologias e práticas católicas e reformadas.

Enquanto muito possa ser dito sobre a estrutura, o estilo e a influência do LOC, talvez mais importante para cristãos da tradição reformada seja a linguagem de suas orações e a centralidade que ele dá à Ceia do Senhor. De certa forma, o Livro conservou certos aspectos da herança de Calvino para seus descendentes diretos, até que estivéssemos prontos para recebê-los.

A linguagem das orações

No século XVI, a linguagem do culto era uma preocupação central. O culto na língua do povo não era um debate novo nos anos de 1500, nem era o ponto inicial de atrito para muitos dos reformadores. Mas a tradução do culto do latim para o alemão, francês, inglês e muitas outras línguas locais rapidamente seguiram-se às disputas iniciais. Cada reformador teve o seu poeta. Cranmer não foi exceção (embrora o seu possa ter sido uma comissão inteira!). De qualquer forma, desde a primeira edição em 1549, uma marca do LOC foi a beleza de seu texto.

As Coletas (orações curtas que reunem as preces silenciosas do povo nos diversos momentos do culto) são uma marca registrada do LOC. Muitas destas encontraram lugar em publicações reformadas, como o Livro de Culto Comum (PCUSA, 1993). Nos exemplos abaixo, note-se o uso das palavras e imagens que tornam essas orações simples, elegantes e sinceras (confira também o quadro ao final).

Oração ao fim do dia

Mantém vigia, amado Senhor, sobre aqueles que trabalham, vigiam ou velam nesta noite, e encarrega seus anjos daqueles que dormem. Atende os enfermos, Senhor Jesus, e concede descanso aos que se encontram fatigados, abençoa os que se encontram à morte, alivia os que sofrem, consola os aflitos, defende os que se alegram, tudo isso por amor do teu nome. Amém.

Coleta para a Quinta-feira Santa

Senhor Jesus Cristo, que estendeste teus braços de amor sobre a dura madeira da cruz, de modo que todos pudessem se aproximar de teu abraço salvador; veste-nos de teu Espírito, de modo que, estendendo nossas mãos em amor, possamos trazer aqueles que não te conhecem que te conheçam e te amem, para a honra de teu nome. Amém.

Uma oração pelos enfermos

Ó Deus, força dos fracos e conforto dos que sofrem, atende com misericórdia as nossas orações, e concede ao teu servo N. o auxílio do teu poder, de modo que sua enfermidade se torne em saúde, e nosso pesar em alegrias, por Cristo Jesus. Amém.

Nós, na tradição reformada, ainda pelejaríamos por mais quatrocentos anos com a linguagem da oração, criando padrões de intercessão que, se não por outra coisa, se tornariam memoráveis pela sua prolixidade, antes de retornarmos para o estilo do LOC como inspiração para uma nova geração de publicações de auxílio para o culto.

A centralidade da Sagrada Comunhão

De caráter central para o LOC, embora nem sempre para a prática de muitos anglicanos, foi o entendimento do Culto Dominical Central fundado tanto na Palavra quanto no Sacramento. O Livro de 1549 oferecia uma síntese do padrão romano, com os ofícios diários de oração matinal e vespertina, coroados pela Eucaristia no Dia do Senhor. Ao longo dos séculos seguintes, muitas igrejas não-romanas adaptaram suas práticas para se amoldarem à compreensão da época.

Cristãos da tradição reformada ainda celebram a Ceia do Senhor em ciclos trimestrais, mensais ou semanais, dependendo dos costumes e tradições regionais e locais das congregações. O LOC tem servido como um lembrete constante da intenção dos reformadores, e como um cutucão perpétuo para aqueles que elaboram os manuais de culto a cada nova geração.

E daí?

Um aniversário dessa magnitude é importante para os cristãos atuais, pois serve para nos lembrar de que as lutas que encaramos como oficiantes de culto em 1999 não são nada novas. As reformas da igreja que abalaram a Europa do século XVI não foram, de modo algum, únicas ou surpreendentes. Uma retomada do ensino e da pesquisa passaram a questinoar muita da tradição que evoluiu com a Igreja. Enquanto isso, o poder das Escrituras estava sendo redescoberto por aqueles na Igreja que não estavam contentes em ver os trapos da condição humana desacreditarem a Palavra de Deus. A Reforma era inevitável.

A Reforma da igreja, que continua a abalar a América do Norte nestes últimos dias do século XX não é única ou surpreendente, pelos mesmos motivos. A mudança continua inevitável.

Em tempos de reforma, aqueles que guiam a Igreja têm muito a aprender e a relembrar. O LOC de 1549 reuniu orações e salmos, litanias e ordens de culto de uma vasta gama de fontes separadas, organizando-as para que fossem úteis nos cultos público e doméstico, e traduzindo textos históricos do latim para a língua do povo. Se a publicação do LOC não tivesse realizado nada mais, isso mesmo já seria digno de nota. Porém, no transcurso do reinado de um infante-rei e em uma era de profunda reestruturação religiosa, o LOC ancorou a reforma da Igreja da Inglaterra dentro da tradição da Igreja histórica. Graças a Deus por esses 450 anos de oração comum, e pelas graças que ainda não conhecemos.

As Coletas de Thomas Cranmer

Para aqueles que se interessam por mais da contribuição do LOC de 1549 de Thomas Cranmer, confiram The collects of Thomas Cranmer, um novo livro de Frederick Barbee e Paul F. M. Zahl. As coletas se encontram na linguagem original, e cada uma é seguida de um comentário sobre seu contexto histórico e uma meditação voltada aos cristãos contemporâneos.

Excerto

ORAÇÕES PARA O ADVENTO, NATAL E EPIFANIA, DO LIVRO DE ORAÇÃO COMUM

As seguintes coletas são da edição de 1979 do Livro de Oração Comum da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. (Sobre essa forma de oração que conclui, ou "coleta" as orações individuais do povo, confira Reformed Worship n. 52, p 44).

A edição de 1979 do LOC inclui ordens de culto e orações tanto na linguagem histórica quanto na contemporânea; um dos seguintes exemplos está na forma histórica, os demais, na contemporânea.

Primeiro Domingo do Advento

Deus Todo-Poderoso, concede-nos a graça de lançar fora as obras das trevas, e de revestir-nos da armadura de luz agora, neste tempo da vida mortal em que teu Filho Jesus Cristo veio para visitar-nos em grande humildade; concede-nos que, no último dia, quando ele vier novamente em sua majestosa glória para julgar os vivos e os mortos, nós possamos ascender à vida imortal; por meio dele, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

Segundo Domingo do Advento

Deus de misericórdia, que enviaste teus arautos, os profetas, para pregar o arrependimento e preparar o caminho para nossa salvação; concede-nos a graça de ouvir seus alertas e abandonar nossos pecados, de modo que possamos reeber com alegria a vinda de Jesus Cristo, nosso Redentor, que vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

Terceiro Domingo do Advento

Manifesta teu poder, ó Senhor, e com grande força vem entre nós; e, porquanto somos amargamente abalados por nossos pecados, concede que tua abundante graça e misericórdia prontamente nos socorra e nos salve; por Cristo Jesus, Nosso Senhor, a quem, contigo e o Espírito Santo, sejam toda honra e toda glória, hoje e para sempre. Amém.


Quarto Domingo do Advento

Purifica nossas consciências, ó Deus Todo-Poderoso, pela tua visitação diária, de modo que teu Filho Jesus Cristo, em sua vinda, encontre em nós uma mansão para ele preparada, o qual vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

Nós Vos imploramos, ó Deus Todo-Poderoso, que purifiqueis nossas consciências por Vossa visitação diária, de modo que, quando Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, vier em Sua glória, Ele encontre preparada para Si uma mansão; por meio deste mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor, que vive e reina convosco na unidade do Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

A Natividade de Nosso Senhor: Noite de Natal

Ó Deus, que fizeste esta santa noite resplandecer com o brilho da verdadeira Luz; concede que nós, que conhecemos o mistério desta Luz na terra, possamos também gozá-lo perfeitamente no céu, onde, contigo e o Espírito Santo, ele vive e reina, um só Deus, em glória sempiterna. Amém.

Primeiro Domingo após o Natal

Deus Todo-Poderoso, que espargiste sobre nós a nova luz de teu Verbo encarnado; concede que esta luz, alimentada em nossos corações, possa brilhar em nossas vidas; por Jesus Cristo, Nosso Senhor, o qual vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.

O Santo Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: 1.º de janeiro

Pai Eterno, que deste ao teu Filho encarnado o nome santo de Jesus para sinal da nossa salvação; planta em cada coração o amor a ele, que é o Salvador do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, em glória sempiterna. Amém.


Segundo Domingo após o Natal

Ó Deus, que de forma maravilhosa criaste, e ainda mais maravilhosamente restauraste a dignidade da natureza humana; concede que partilhemos da natureza divina daquele que se humilhou para partilhar de nossa humanidade, teu Filho Jesus Cristo, que vive e reina contigo na unidade do Espírito Santo, um só Deus, para sempre e sempre. Amém.

A Epifania: 6 de janeiro

Ó Deus, que pela condução de uma estrela manifestaste teu único Filho aos povos da terra; guia-nos a nós, que conhecemos a ti pela fé, à tua presença, onde possamos ver tua glória face a face. Por Cristo Jesus, Nosso Senhor, o qual vive e reina contigo e o Espírito Santo, um só Deus, agora e para sempre. Amém.


_________________________
* Paul Detterman é conferencista, músico eclesiástico e Ministro da Palavra e Sacramentos da Presbyterian Church (USA). Ele trabalha como diretor executivo da Presbyterians for Renewal, um ministério nacional sediado em Louisville, Kentucky.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Atualização: Manual do Culto

A título de informação, o Rito I do Culto Público do Manual da SLR(link ali do lado) passou por uma revisão e foi atualizado. A diagramação também mudou. O texto foi corrigido em muitos pontos e a Oração Eucarística que vem com ele (a primeira do Manual, que terá algumas) foi bastante modificada.

Atualização (04/03/2010): Os Ritos I e II da Ordem para Celebração do Sagrado Matrimônio (ou simplesmente o Casamento Cristão) também foram revisados e republicados.

Confiram e opinem!!