sábado, 15 de dezembro de 2018

Templos não são apenas prédios

A Igreja é feita de pessoas. Mas elas precisam de um lar.


Por Craig Barnes

Originalmente publicado em Christian Century, 26 de outubro de 2018.

Trad. Eduardo Henrique Chagas


Em todas as três comunidades em que servi como pastor, não havia uma tarefa que eu encarasse com mais hesitação do que as reuniões da comissão de patrimônio. Para ser caridoso, as pessoas com inclinação a servir nessa comissão gostam que sua fé seja material, palpável e sólida como pedra e cimento. São os membros menos gnósticos da igreja. Para ser menos caridoso, pode ser que sejam mais devotados ao prédio do que à missão da Igreja.

Independentemente das questões que eu tinha acerca de suas prioridades, eu reconhecia o trabalho da comissão de patrimônio. Existe uma espiritualidade acerca do lugar onde a Igreja repetidamente se reúne. Cada vez que adentramos esse espaço, nos lembramos de que foi ali que nossos filhos foram batizados, se casaram, onde nossos cônjuges foram devolvidos ao Senhor em funerais e onde viemos domingo após domingo em busca de uma Palavra da parte de Deus. Sempre que precisei de um lugar solitário para orar durante a semana, me sentava no templo vazio. Sentia-me encorajado simplesmente por estar num lugar onde tantos também já haviam orado antes de mim.

Mas eu conhecia bem o orçamento, e ficava perplexo com quanto do dinheiro da Igreja ia para a manutenção desta casa de oração. A constante manutenção e as crescentes contas de água, luz, gás, eram considerados custos fixos, enquanto a programação e iniciativas missionais tinham de se virar com o que sobrava. Será que era isso mesmo que Jesus queria?

A maioria dos pastores que eu conheço tem esse mesmo relacionamento ambivalente com seus templos, até nos casos em que foram eles mesmos que arrecadaram fundos para a construção. Amamos ter nosso próprio lugar para cultuar e participar de todas as demais atividades de ser uma família da fé, e acalentamos as memórias que ali criamos. Mas sempre nos assombramos com quanto isso custa.

O custo não é apenas financeiro. Congregações de todos os tipos gastam um tempo imenso conversando, muitas vezes discutindo, sobre como empregar suas instalações. Isso porque não são apenas prédios, mas altares sagrados, onde o povo está mais atento à presença de Deus. Então, muita coisa está em jogo num lugar de culto, não importa quão humilde.

Meu pai foi um plantador de igreja. A congregação da minha infância se reunia no amplo porão sem acabamento de uma casa, antes de conseguir comprar um templo usado. Mas mesmo no curto período que passamos como "a Igreja no porão", nós logo desenvolvemos tradições e uma noção de ordem. Um domingo, não muito tempo depois que a Igreja começou, meu pai tentou colocar as cadeiras em outra disposição para o culto. Foi recebido com oposição dos que disseram "mas nós sempre arrumamos do mesmo jeito". Em outras palavras, é assim que nós comparecemos diante de Deus.

Os cristãos primitivos devem ter tentado sacralizar suas igrejas domésticas com a mesma noção de ordem, assim como a congregação da minha infância fazia no porão. Mesmo quando a Igreja se acotovelava em catacumbas, ela punha arte permanente nas paredes, o que revela seu anseio por tornar um lugar de sepultamento em um espaço sagrado de culto. Depois que a Igreja foi legalizada e adotou as antigas basílicas romanas como seus templos, nunca superamos nosso amor por uma fé escrita em pedra.

O seminário onde sirvo tem vários prédios que foram construídos no séc. XIX. Custaram caro para construir e custam caro para conservar. Mas quando passo por eles, posso sentir a seriedade da nossa missão de treinar a próxima geração de pastores e acadêmicos. Se as pedras desses prédios pudessem falar, descreveriam tantas noites em claro em que viram nossos estudantes debruçados sobre seus livros de teologia, e conjugando verbos antigos para aprender a manejar fielmente a Palavra de Deus. A capela tem ouvido os cultos de nossos alunos por 180 anos. Acolheu incontáveis seminaristas que nela entraram, solitários, para discernir, em oração, o chamado no qual gastariam o resto de suas vidas.

Deus certamente não precisa de um antigo e querido templo para descortinar nosso chamado. Como os salmistas repetidamente nos lembram, "Ao Senhor pertence toda a terra". Uma longa caminhada na natureza, ou a plataforma lotada e malcheirosa de uma estação de metrô também podem se tornar o lugar sagrado de um encontro santo. Mas para compreender esses encontros, nos reunimos com outros em algum lugar de culto, para "contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo", o que o salmista Davi diz que é seu maior desejo.

Esse templo pode ser uma catedral gótica, um ponto comercial alugado ou uma cafeteria que cede seu espaço para a plantação de uma igreja. Mas precisamos da familiaridade de nosso lugar de culto. Isso pode envolver a disposição das cadeiras, da tela que projeta as letras que cantamos, a garrafa térmica na entrada que pinga suco no chão. Ou pode ser bancos desconfortáveis, o ranger da escada da galeria, a cruz na parede, que contemplamos a cada semana, as pequenas placas de dedicação nos vitrais, que nos sussuram os nomes de pessoas que ali estiveram antes de nós, alguém que também queria contemplar a beleza do Senhor e compreender qual o seu chamado.

Todo mundo que passou pela Escola Dominical aprendeu que a verdadeira Igreja é a família da fé cristã, não o templo onde se reúnem. Mas toda família precisa de um lar.

M. Craig Barnes é presidente do Seminário Teológico de Princeton.


Um comentário:

TThesis disse...

Queridos em Cristo gostaria de estabelecer contato convosco.

Meu emal é editorateneo@gmail.com