sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ordens litúrgicas

Já há algum tempo eu venho trabalhando não apenas no Manual, com propostas abstratas e alternativas de textos para a elaboração de cultos segundo a liturgia cristã histórica e a teologia reformada; também dou alguns chutes de aplicação prática.

Resolvi que vou publicar aqui, também, o que tenho feito, de concreto e de abstrato, como aplicação prática do Manual, nos domingos e festas do Calendário Cristão.

Aqui vão algumas:


Curiosidades: tentei uma vez fazer uma Ordem de Culto usando o Gottesdienst luterano. Deu nisso. Uma outra vez, quando eu ainda era mais verde nesse negócio de liturgia, resolvi fazer um culto usando só música contemporânea. Deu nisso.


Comentários e críticas são sempre bem-vindos!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Culto neo-avivalista

Por P. Paul F. Bosch

Eu tive a experiência, em meses recentes, de comparecer aos cultos de paróquias de duas denominações radicalmente diferentes.

A primeira, foi em um culto de verão do que se pode chamar de uma denominação cristã do mainline¹. Não irei identificar nem a paróquia, nem a denominação; irei chamá-la, simplesmente, de Culto A. Mas esta era, sem dúvida, uma congregação protestante solidamente mainline, como os metodistas ou a Igreja Unida [do Canadá; união das igrejas Presbiteriana, Congregacional e Metodista ocorrida em 1925. N. do T.] - mas não era uma igreja de nenhuma dessas denominações, especificamente. O culto não era informado ou moldado pela tradição Palavra-Sacramento das "Três Grandes" tradições litúrgicas do Ocidente (Católica Romana, Anglicana ou Luterana).

A segunda, que eu também não irei identificar, chamarei simplesmente de Culto B; foi em um culto de verão do que se pode chamar, talvez, de um grupo de livres-pensadores radicalmente pós-protestante, à esquerda dos quacres e menonitas na escala que eu mencionei na Edição 24. É um grupo que provavelmente se recusa a se chamar de "igreja", com muitos de seus componentes relutantes em se identificar como cristãos.

Mas o que me chamou a atenção foi a similaridade da ordem de culto, nos dois casos. Havia diferenças significativas, claro. O Evangelho estava mais claramente evidente no Culto A; nem tanto no Culto B, como se poderia esperar. Essa é a maior diferença. E, creio, para alguns, isso é tudo o que se precisaria saber. o Culto A é claramente "evangélico". O Culto B, não tão claramente.

Um aparte: nos dias do pós-Segunda Guerra Mundial, quando o Conselho Nacional de Igrejas estava sendo formado nos EUA, foi Franklin Clark Fry, uma voz luterana nas deliberações, que argüiu que grupos como "B" deveriam ser excluídos. Se este é para ser um Conselho de Igrejas, Fry argüiu, que seu compromisso com o Evangelho, que suas credenciais cristãs sejam claras para todos.

Aparte número 2: Ademais, eu tenho sérias dificuldades hoje em dia de identificar a chamada "Direita Cristã" como "evangélica", como fiz notar na Edição 108. "Evangélico" significa ter algo a ver com o Evangelho, com as Boas Novas de Deus em Cristo. E ultimamente eu ouço muito pouco de "boas novas" vindo da Direita Cristã. O que vem, geralmente, é lei. Ouve-se muito pouco do "sim" de Deus, e quase sempre um "não" bem humano.
Mas eu hesitaria em dizer que B era totalmente não-evangélico, completamente desprovido das Boas Novas de Deus. Eu, de fato, vislumbrei o Evangelho lá, mesmo que talvez apenas na hospitalidade dos congregantes e na acolhida cordial que o pastor deu a mim, um estranho. Mas eu falava sobre a ordem do culto. Nas duas assembléias, o culto transcorreu de formas bem similares, seguindo o padrão que um amigo meu chama de "o sanduíche de hinos": Hino, leitura, hino, oração, hino, ofertório, hino, sermão. Com o sermão sendo o esperado clímax e conclusão do culto.

Compare-se essa ordem com a nossa, das igrejas do tipo palavra-e-sacramento, que está bem disposta em nosso novo manual de culto, Evangelical Lutheran Worship: Reunião, Palavra, Sacramento e Envio. São ações participativas, atos comunitários. Claro, salmos, hinos e cânticos são uma parte importante de cada uma dessas ações. Mas são atos corporativos, coletivos. Não dá pra fazê-los sozinho. Você é convidado para atuar. Para se tornar não um observador, mas um participante, um ator no palco.

Certamente, mesmo em A e B eu pude perceber um certo sentido de participação. Mesmo que apenas no cantar dos hinos - com letras bem diluídas em B - eu me senti incluído, como participante. Mas não havia muito senso de coletividade em qualquer dos cultos, A ou B. Eu estava participando, em ambas as igrejas, em um exercício relativamente individual.

Essa sensação que eu tive de uma abordagem mais individualista do culto, em detrimento de uma mais comunitária, foi intensificada pela arquitetura de ambos os locais de culto. Fileiras e mais fileiras de bancos que só te deixam olhar para as nucas das outras pessoas. Parecia que se estava interagindo apenas com o pregador, porque a cara dele era a única que se via. É claro, a mesma crítica - que o culto é uma experiência individual e particular, em vez de uma comunitária e coletiva - pode ser levantada também contra uma igreja da tradição palavra-e-sacramento em que a disposição dos assentos dificulte a interação mútua.

E, em ambas as igrejas, A e B, faltava um sentido de sacramento, de encarnação, da matéria da criação amorosamente tomada como um veículo para que o celestial invada minha vida. Então, me peguei perguntando a mim mesmo: de onde vem tudo isso, o culto no modelo sanduíche-de-hinos?

Certamente não de raízes na tradição palavra-e-sacramento. Lá, a ordem é ação, é encarnação. Ela exige moléculas, matéria do mundo criado: pão, vinho, água. E ele é ao mesmo tempo participativo e comunitário.

Certamente não das fontes do Oficio Diário - Oração Matutina e Vespertina. Lá, também, uma estrutura de culto participativa e comunitária é, ao menos, implícita, senão explícita.

É daqui que veio o padrão desse culto: do avivalismo de fronteira americano do século XIX.

Então, dou um nome para isso: Neo-avivalismo. E farei uma afirmação dura: a maior parte dos cultos protestantes contemporâneos é neo-avivalista em estrutura, modelo ou forma. Uma série de sanduíches de hinos culminadas com um sermão. Você vai para escutar uma palestra. A única coisa que parece faltar dos tempos do avivalismo de acampamento são os apelos.

Agora, se há Evangelho lá, como havia em A, isso não é o bastante? A resposta, do ponto de vista da tradição da palavra-e-sacramento é não, isso não é o bastante. Também precisamos daqueles sinais visíveis da encarnação, do sacramento, daquelas moléculas de pão e vinho e água. Também precisamos daquele sentido de participação coletiva. Também precisamos daquela percepção de que todos os presentes estão convidados para participar como elementos insubstituíveis nesse louvor. O culto neo-avivalista deixa a desejar nesse tipo de integralidade universal, católica. Confira a Edição 29.

Como um amigo e mentor dizia, a verdade mais plena sobre Deus não se resume em uma palavra, mas em duas: Palavra e Sacramento.

Agora, não se diga que os neo-avivalistas não são pessoas amáveis. Elas são. Tanto em A como em B. São o tipo de gente com quem você gostaria de almoçar. "eu mesmo fui um neo-avivalista em minha juventude". Mas minha esperança - minha oração - é a de que, um dia desses, eles passem a apreciar uma maior universalidade, uma mais plena catolicidade no culto.

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¹. Mainline: As grandes denominações protestantes de imigração na América do Norte - Presbiterianismo, Metodismo, Congregacionalismo, Luteranismo, Anglicanismo e algumas vertentes batistas. Destacam-se por uma maior abertura a (e, freqüentemente, o envolvimento em) mudanças políticas e sociais, e oposição ao conservadorismo evangélico e ao fundamentalismo político e religioso. N. do T.

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O P. Paul F. Bosch é ministro da Igreja Evangélica Luterana do Canadá e professor de Liturgia nos seminários da denominação.

Originalmente publicado em Lift Up Your Hearts, publicação eletrônica da Evangelical Lutheran Church in Canada, n.º 134, dezembro de 2008.

sábado, 13 de junho de 2009

Rascunho: Rito de Ordenação de Oficiais

Um pastor amigo meu precisou, recentemente, de um rito para a ordenação de oficiais da igreja dele (uma comunidade reformada independente). Agarrei a oportunidade, e resolvi publicar o resultado, que fica como rascunho para o Manual.

Gostaria bastante das opiniões de vocês; se falta algo, se sobra algo.

Minhas fontes principais foram os Ordinais dos Livros de Oração Comum americanos de 1928 e 1979, brasileiros de 1930 (edição de 1950) e 2008, os ordinais publicados online pela Reformed Church of Canada, pela Christian Reformed Church of North America; a Constituição e os Princípios de Liturgia da IPB (1950) e da IPIB (1999) e o Livro de Ordem da PCUSA (1985).

O texto pode ser baixado aqui.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Culto pelos 500 anos de Calvino

Dia 10 de julho, o mundo cristão reformado comemorará o quincentenário do Reformador João Calvino.

Para marcar a ocasião, preparei uma ordem de culto de louvor e ação de graças a Deus pela vida e obra do reformador.

O arquivo é um pdf, preparado para impressão no formato boletim (4 folhas A4, num total de 16 laudas, incluindo todas as leituras bíblicas e letras de hinos e cânticos). Pode ser baixado aqui.

terça-feira, 3 de março de 2009

Deu no New York Times...

Um interessantíssimo editorial do New York Times, datado de quase 103 anos atrás, repercutiu o lançamento de um dos primeiros Manuais de Culto da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, o Book of Common Worship, ou Livro de Culto Comum, que hoje encontra-se em sua quinta versão (1993). O lançamento do BCW coroou a vitória do movimento litúrgico na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, que ocorreu durante o século XIX, simultaneamente ao grande resgate litúrgico visto também entre anglicanos e metodistas.

Deus permita que alcancemos este mesmo sucesso um dia em solo brasileiro, ainda que já mais de 100 anos atrasados.


O Livro de Oração Presbiteriano

Nova York, 9 de maio de 1906.

Não é de se espantar que certos brios tenham sido feridos pelo lançamento do novo Livro de Culto Comum [no original, Book of Common Worship, N. do T.], do Dr. Henry van Dyke, para uso da Igreja Presbiteriana.

É bem verdade que cada esforço foi feito para conciliar os preconceitos presbiterianos. É verdade também que a nenhum outro ministro presbiteriano poderia ter sido tão bem confiada a elaboração de tal obra, como o foi ao tato sensível do Dr. van Dyke. É verdade, inclusive, que o novo ritual não é, de forma alguma, imposto, sendo meramente anunciado em seu frontispício "para uso voluntário das Igrejas". Porém, não há de se negar o fato de que ele consiste, verdadeiramente, de um ritual, que contém "formas de oração" e "ofícios", e este fato por si só pode se apresentar como uma pedra de tropeço a várias pessoas. É bem possível que, inclusive, em alguns distritos afastados, o ministro que primeiro tentar empregá-lo seja recebido pelo fantasma de Jenny Geddes, a quitandeira que deixou bem claro seu apreço ao Rev. Thomas Carlyle, ao atirar seu banquinho contra o Arcebispo William Laud, gritando "Vil bandido! Ousas dizer missa no meu ouvido?".

Certamente será à forma, e não ao conteúdo do Livro de Oração Presbiteriano, que os opositores limitarão as suas objeções. Porque, de fato, todo culto público que se pretender decente e apropriado, deverá conter alguma formalidade. Uma congregação presbiteriana ficaria tão chocada quanto uma católica ou episcopal se o ministro começasse o culto diretamente com o sermão, ou irrompesse de súbito em canto, ao invés de seguir o procedimento costumeiro. E esse procedimento costumeiro é uma "forma".

É bem verdade que, quando o Espírito toca fortemente um ministro, ele pode acabar por improvisar orações mais eloqüentes e apropriadas ao contexto do momento, do que aquelas que lhe foram preparadas e impressas para o uso. Mas esta não é e nem pode ser a regra, mas sim a exceção, que as improvisações de um indivíduo atendam mais ao propósito do culto público comunitário do que "as formas de palavras sãs", prévia e cuidadosamente preparadas por pessoas competentes, e impressas para o uso (note-se, apenas para o uso) dos ministros que decidam empregá-las.

Por outro lado, quase todos podem se lembrar de ocasiões solenes, cuja solenidade foi diminuída ou arruinada pela "arte espontânea" de algum ministro pouco eloqüente ou desprovido de tato. E muitos, em tais ocasiões, devem ter lamentado a falta de um "ofício" mais eloqüente e impessoal, como o é o Ofício de Sepultura da Igreja da Inglaterra.

Na verdade, provavelmente deve-se muito ao seu bom ritual, que a Igreja Episcopal tem feito tão grande progresso neste País nos últimos anos, especialmente nas grandes cidades, onde tem arrebanhado fiéis até mesmo de outras denominações que rejeitam os rituais.

Um ritual que ninguém é obrigado a utilizar, a menos que o considere melhor do que quaisquer palavras que consiga improvisar de cabeça no último momento, não deve justificar qualquer ferocidade ou antagonismo. Podemos esperar que o novo Livro de Oração Presbiteriano caia, gradualmente, no favor da Igreja Presbiteriana.